“Aos vinte e nove dias do mês de abril de 2009, às 19h, na sede da Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães, situada à R. Alaor Prata, 55, nesta cidade
“Aos vinte e nove dias do mês de abril de 2009, às 19h, na sede da Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães, situada à R. Alaor Prata, 55, nesta cidade, em sessão solene, reuniu-se parcela significativa da comunidade uberabense para lançar o livro da historiadora Marta Zednik de Casanova em comemoração aos 100 anos desta casa de livros”. Com esta introdução, poder-se-ia lavrar uma das mais importantes atas que se possa ter notícia da nossa história local, e por que não dizer regional e nacional. A seguir, será justificado.
Um discurso alusivo ao feito comportaria perfeitamente estas palavras: “Os primeiros atos dos ditadores ao assumirem o poder são exatamente mandar que se destruam as bibliotecas e sacrifiquem ou matem os pensadores. Os intelectuais não têm vez nos regimes de exceção. Na Alexandria, tem-se como certo o primeiro incêndio proposital de uma biblioteca. No Iraque foi criada a roda, a escrita e o vidro, além de ser desenvolvida a Matemática e outras ciências legadas a nós, do Ocidente. Pois bem; George W. Bush ordenou que seus soldados destruíssem a Biblioteca Pública de Bagdá. Eles assistiram ao fogo destruir parte da memória da humanidade e nada fizeram! A continuar as guerras, acabaremos todos sem memória”.
Se me fosse dada a oportunidade para manifestar, naquela solenidade, eu acrescentaria à equipe responsável pela elaboração do livr “Vocês esculpiram com cinzel, na pedra, a parte que faltava na história de Uberaba. Nossa terra faz parte de um círculo reduzidíssimo de cidades, cujos interesses políticos não causaram acidentes às suas bibliotecas. Temos uma biblioteca centenária!”.
Juntando o conteúdo da ata, que poderia ser escrita com o meu discurso imaginado, teríamos conclusões mais ou menos assim: “Nossa biblioteca tem 100 anos e esse fato, antes de nos envaidecer, enche-nos de responsabilidade diante do exemplo cultural que devemos dar”. E mais: “O homem tem o poder de fazer o livro e o livro tem o mesmo poder de fazer o homem. A biblioteca é o grande celeiro desta incontestável realidade”. Oxalá pudéssemos ter milhares de “Casas de Livros” nascendo hoje, aniversariando amanhã e, quem sabe, outras chegando brevemente ao centenário. Essa não é a realidade, infelizmente.
Que as ditaduras parem de fazer aniversário.
(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro