ARTICULISTAS

A arte de formar um delinquente

Num dos bancos de uma velha igreja, em Salvador

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 17/11/2013 às 12:02Atualizado em 19/12/2022 às 10:12
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Num dos bancos de uma velha igreja, em Salvador, foi encontrado um manuscrito com este título. Nele, lia-se o seguinte: “EDUCAR FILHOS É UM DASAFIO”.

Recorra sempre à mentira, dentro de seu lar, para salvar-se de situações embaraçosas. Seu filho vai descobrir, deste modo, que a mentira é um recurso válido e ético.

Use do dinheiro para encobrir o que seu filho fizer de ilegal ou imoral. Ele vai descobrir que o dinheiro está acima da verdade, compra autoridades e consciências.

Desde cedo, dê a seu filho tudo o que ele quiser e faça todas as suas vontades. Ele vai aprender, bem cedo, que o mundo é obrigado a conceder-lhe  tudo o que quiser.  Ele é o centro das atenções.

Apanhe tudo o que seu filho deixar jogado pelo chão, sapatos, meias, roupas, livros, papéis, brinquedos.  Assim lhe será ensinado que é mais fácil e mais cômodo jogar a responsabilidade sobre os outros.

Em casa, discuta sempre na presença dele, mostre arrogância e prepotência. Ele chegará à conclusão de que vence aquele que gritar mais alto e dizer os mais baixos palavrões.

Quando seu filho, ainda pequeno, pronunciar nomes feios, não o corrija e ache graça naquele procedimento. Não é aconselhável repreendê-lo com severidade, pois isso irá criar no seu filho complexo de inferioridade e castração de liberdade.

Não dê a seu filho orientação religiosa. Espere que ele chegue aos 21 anos para decidir por si mesmo, livre e espontaneamente, se vai querer ou não crer em Deus ou escolher uma religião.

Tome sempre, automaticamente, o partido dele quando criar problemas com os vizinhos, com os professores ou com a polícia. Assim ele aprende que não há necessidade de se responsabilizar por seus atos. Faça com que ele aprenda que ele tem sempre razão e o policial, o vizinho ou o professor estão sempre errados, o que fazem é perseguição injusta contra ele.

Ensine-o a tratá-lo de ‘você’, de igual para igual. Não ensine a ele tomar-lhe a bênção. Isso é coisa ultrapassada.  Nada de respeito aos mais velhos.  Seu filho vai assim crescer livre dessas excrescências de uma educação superada e,  quando chegar aos 18 anos, achará que você também é um velho gagá, atrasado, quadrado, um ‘mala’, ‘um bolha’ que impede seu desenvolvimento normal.”

Será que esta reflexão era válida apenas há 50 anos ou tem sentido refletir sobre ela nos tempos em que vivemos? Nossa educação familiar progrediu ou regrediu?                 

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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