ARTICULISTAS

A carga de ódio

Tenho um grupo de leitores usuais e semanais aos que eu chamo “carga da brigada ligeira” – lembrança de um filme muito antigo e heroico, daqueles em que o mocinho sempre sai com vida...

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 01/02/2012 às 13:11Atualizado em 17/12/2022 às 08:04
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Tenho um grupo de leitores usuais e semanais aos que eu chamo “carga da brigada ligeira” – lembrança de um filme muito antigo e heroico, daqueles em que o mocinho sempre sai com vida – mas os seus maiores amigos e companheiros morrem na batalha. Na minha ideia e visão personalista o herói não é o sobrevivente, mas sim aqueles amigos que lhe deram sobrevivência e vitória, muitos morrendo anônimos e desconhecidos. Isto, a meu ver e viver, acontece no quase todo dia triste – meu ou de qualquer um. Para mim, viver não é uma arte – sobreviver é que é arte. Viver é apenas biologia, coração bate, cabeça pensa, estômago dói, intestino funciona... tudo automatizado... como animais que somos. A diferença dos animais nos acontece por um fator especial, que só Deus poderia dar: a consciência humana. Sem consciência o homem seria apenas um animal bípede melhorado – e nós todos seríamos iguais. A consciência é na espécie humana o fiel da balança, pendendo para o bem – ou para o mal. Consciência significa conhecer, avaliar, entender para sentir e decidir. Todas as religiões e filosofias estão assentadas no conhecer, verbo definitivo e absoluto da consciência. Desastres terríveis aconteceram na vida humana – individual ou coletiva – quando ela foi guiada exclusivamente pelas emoções, simpáticas ou antipáticas. Com frequência o ser humano decide por suas impressões pessoais, frequentemente distorcidas – e daí vêm os sentimentos das nossas relações. Sem um conhecimento maior ou mais profundo o ser humano estabelece suas simpatias... e antipatias. Nem sei quantas vezes passaram pelo meu consultório sentimentos sem base ou conhecimento... apenas o sentimento como razão de salvação ou repulsão. E quantas vezes o erro descoberto traz mudanças da análise apressada, tendenciosa e ignorante. Curiosamente, talvez por aquele demônio interior que nos é injetado, o paciente fica matriculado naquele pelotão a que chamo “a carga do ódio”. Vejam o que conheço, sinto e lament a humanidade toda é muito mais preparada para esta carga do que para a carga do amor. Uma estupidez, vão me dizer. Uma verdade, vão me dizer os que tiveram a graça da dúvida, da esperança... até da coisa rara que se chama amor. Como seria bom, pensa este escriba otimista, se todos duvidassem do seu primeiro e apressado julgamento. Se reconhecerem erro – o que não é tão rápido –, poderão encontrar caminho feliz, pelo menos para seu sentimento que talvez seja caridade... e talvez amor. Olhem, amigos, eu não sou e nem vou morrer com esta enorme felicidade. Mas faço força, ELE sabe e me ajuda. Escutem comigo uma obra-prima: Tião Carreiro e Pardinho estão cantando... “o que foi feito daquele beijo que te dei... daquele amor cheio de ilusão, que foi a razão do nosso querer...” É fácil concluir: jamais será feliz quem só espera e sente ódios. Esta carga é pesada demais.

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