ARTICULISTAS

A Década Perdida

Não me lembro de quantos anos eu tinha. Lembro-me apenas do fato

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 12/01/2014 às 12:20Atualizado em 19/12/2022 às 09:27
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Não me lembro de quantos anos eu tinha. Lembro-me apenas do fato. Daquele quadro. Meu pai e meu tio Euclides atravessando um arrozal. Eu os acompanhava. Meu pai e meu tio conversavam. Lembro-me claramente de um pequeno diálogo.  Meu ti "Alberto, o que você me diz do Getúlio?" Meu pai: "É, o caçador é bom, mas a cachorrada não presta".  Meu pai queria deixar bem claro que o Getúlio era realmente bom.  Era o governante de quem o país precisava. Mas, os cupinchas que o rodeavam, um magote de cães famélicos, não estavam à altura do líder. Meu pai era getulista de carteirinha.

Por que recordo tudo isso?  Como os antigos diziam, "lá e cá más fadas há".  O que quero dizer é que o problema da autoridade é sempre o mesmo. Não é fácil dirigir um grupo. Não é fácil ter responsabilidade sobre pessoas. A começar pelo grupo primordial, a célula mãe, a família. É um lugar comum, mas nem por isso deixa de ser verdade. Um grupo de poucas pessoas, mas de muitos problemas. Como sofrem os pais!

Cada pessoa é um ser à parte, com seu modo de ser inconfundível e único. Com seu temperamento. Seu caráter. Suas manias. Suas idiossincrasias. Sua ideologia. Como pode o responsável pela comunidade agradar a todos? O dilema “agradar-desagradar" é sina de toda autoridade. O melhor é não ter em quem mandar. Agradar a um é desagradar a outro.

É compreensível que toda autoridade tenha os seus preferidos e a tendência afetiva de atender melhor a seus afilhados. Não existe tratamento totalmente imparcial. A autoridade, pelo fato de ser autoridade, não abdica de suas preferências. O prefeito gosta mais de alguns do que de outros. O bispo gosta mais de certos padres do que de outros. É natural.

Ser pai ou mãe, prefeito ou governador, diretor ou gerente, reitor ou bispo, professor ou bedel, juiz ou capataz, o problema é o mesmo. É ser caçador. Muitas vezes, quem não presta é a cachorrada, mas a fama de incompetente é sempre o caçador quem leva. Nessa perspectiva, procuro compreender os meus superiores, sejam políticos, profissionais ou religiosos. Penso mesmo que podem ser bons caçadores, mas há cachorro demais ao redor, mordendo bife fora de sua própria gamela.

Para resumir: nosso segmento político está avariado. Para que você compreenda o que afirmo, tomo a liberdade de dar-lhe um conselh leia um livro publicado recentemente. Uma obra prima: “A Década Perdida”, de Marco Antônio Villa. Da Editora Record. Leia com urgência.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mine

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