Em greve por benefícios salariais e plano de promoções, professores do Rio de Janeiro acamparam na Câmara de Vereadores, acompanhando votação de projeto que nada favorece a classe. Enquanto isso, prefeituras recorrem ao governo federal para o piso salarial nacional, de R$ 1.567,00, não aumentar significativamente, pois não poderiam arcar com a folha de pagamento.
No Brasil, a falta de reconhecimento da classe representa uma das causas de treze milhões de adultos não saberem ler nem escrever. Não há professores em número suficiente para alfabetizar crianças, jovens, nem adultos que não tiveram antes essa oportunidade.
No Japão, é bem diferente. Naquele país de tradições milenares, todos, exceto professores, devem se inclinar perante o Imperador: o povo japonês reconhece a relevância do papel dos professores, que fazem da educação um dos pilares do país. Exemplo de valorização da classe a ser imitado.
Enquanto no Brasil o salário do professor é irrisório, outros profissionais recebem valores vultosos. Por essas e outras, a Justiça determinou o corte, nos vencimentos de determinados servidores, da parcela que ultrapassa o valor mensal do que recebem Ministros do Supremo Tribunal Federal (estes recebem vinte e oito mil reais), o que significa que mais de trezentos milhões de reais pagos indevidamente pelo Senado Federal deveriam ser devolvidos aos cofres da Casa. Como o erro foi do Senado, o sindicato dos funcionários recorrerá à Justiça. Na Câmara, em fato análogo, a Justiça mandou cessar o pagamento indevido, mas não determinou a devolução do dinheiro.
O maior contraste que existe na vida de nossos mestres é a qualidade do trabalho que eles desenvolvem em troca de salário insignificante. Essa realidade é conhecida por todos, inclusive por nossos dirigentes, tão profícuos em criatividade dando bolsas diversas para a família de presidiário e para os desempregados e pagando bem à alta cúpula. Imaginamos o quanto essas bolsas ou os vencimentos de um Ministro poderiam melhorar os do professor. Mas parece que o erro do professor é justamente insistir em ter emprego.
Com um pouco de boa vontade, o governo consegue, se quiser, cortar excessos de toda espécie na administração e tornar o salário dos professores digno de quem ainda tem a coragem de teimar em trabalhar no Brasil. E os professores, assim como os Ministros, jamais precisarão fazer greve.