Existem coisas que são apreciadas e queridas de acordo com a idade do freguês. Aqui entre nós, a infância aprecia bonecas ou revólver de espoleta. As meninas crescem, já apreciam vestidos, broches e enfeites. Os meninos vão jogar futebol, basquete e esportes físicos mais pesados. Todos vão crescendo, vem as festas de aniversário, logo a música do DJ, bandos colegiais, alguma refrega entre inimigos e também alguma esfrega progressiva com o sexo oposto – ô tempo bom! Depois vem a luta do trabalho e da profissão, casamento ou ajuntamento, mas é preciso ganhar a vida, certo? Esta parte é prolongada, lá vem a vida familiar e social, os filhos que vão nascendo e atropelando. Por fim e por último acontece o envelhecimento, mulheres engordam e tratam a pele e rugas, homens ficam barrigudos e lerdos, o esporte vai caindo para cerveja com mesa. Começam a acontecer dores variadas, do reumatismo ao infarto... e até ao câncer.
Agora, é perguntar ao brasileiro que coisa ele apreciou em toda esta viagem, da mamadeira até a chegada final, ali na Funerária Pagliaro. Vão chutar muito, a namoradinha e primeiras esfregas; a profissão se houve sucesso; os filhos queridos; o esporte com os amigos; o carteado e outros etceteras – incluindo aí o êxito profissional dos competentes e o fracasso doloroso das vidas e vaidades políticas. Tudo bem, penso que vão concordar. Agora, se me permitem, vou acrescentar minha observação pessoal: o brasileiro é gamado mesmo é no futebol. Faça ou viva como quiser, o homo brasiliensis, nossa espécie rara, nasceu para viver e sofrer com o futebol – agora enfeitado de mulheres, a televisão mostra.
Esta observação profunda que lhes comunico nasceu recente para esta crônica. Volto aqui perto neste domingo passado, quando o Brasil perdeu a Copa das Américas. Que vergonha, meus amigos, ver um time de profissionais escolhidos chutar quatro pênaltis para fora, com taça e tudo. O seu Teixeira Permanente fala pela presidência: tudo é passageiro, vai continuar igual, mesmo sistema e personagens. Inclusive o senhor técnico Mano, que ensinou o ataque a devolver a bola pra defesa ficar sassaricando de lá pra cá. Eu sofro e imagino com a ameaça dele continuar: um técnico ridículo, que leva seus jogadores para uma final sem o cuidado de escolher e preparar os que iriam cobrar pênaltis... Volto lá atrás, em 1950, quando eu estava no Maracanã e vi o Brasil perder a copa com os melhores jogadores que jamais teve. Motivo? Despreparo e vaidade, os nossos jogadores estavam de festa e porre até a véspera da final, depois de golear Espanha e Suécia. Teixeira e Mano, desconfiem, ou eu vou pedir à Dilma um favor especial: mandá-los às favas, ou coisa pior. Afinal, nós precisamos e merecemos uma alegria!
(*) Médico e pecuarista