Dizem que as crianças nascem sabendo mexer em computador e, com o tempo, descobrem que este é uma ferramenta
Dizem que as crianças nascem sabendo mexer em computador e, com o tempo, descobrem que este é uma ferramenta indispensável no seu dia-a dia. De fato, o computador tem a sua importância, com finalidades várias, dentre as quais a de pesquisar, dialogar com o conhecimento, aprender com a realidade posta, informar, organizar, dinamizar os conteúdos com segurança, calcular... Enfim, várias utilidades úteis, se não for uma redundância na língua. Entretanto, vagarosamente adentra o imaginário social a idéia de que o computador é ferramenta essencial no processo ensino/aprendizagem e de que é a expressão da qualidade de ensino.
Tenho lá minhas reservas quanto a essa afirmativa. O computador pode ser uma ferramenta imprescindível à pesquisa e à ampliação do conhecimento quando o usuário é devidamente orientado para esse fim. O computador em si é uma máquina de diversão, sem cunhos educacionais. A formação do conhecimento está na leitura, na relação com o mundo real e o cotidiano, na redação, nos ditados em sala de aula, nos filmes, na iconografia, na música, no esporte e, possivelmente, no computador. Sem nos abster, ainda, da presença dos pais no cotidiano escolar. Se não houver interesse familiar na educação de seus filhos, eles verão a escola como um espaço sem finalidades culturais e sem importância em sua formação.
As falas modernas, sem parâmetros conceituais, geram ideias equivocadas sobre determinados assuntos, a exemplo do computador na escola. O aluno ou a aluna ali na frente do computador, teclando, navegando na internet, ou digitalizando, em nada amplia sua visão ou fortalece o seu conhecimento se esses atos mecânicos não forem devidamente orientados. Quando você entra na internet para fazer uma pesquisa sobre determinado tema, ao clicar na busca de respostas, surgem centenas de informações. Você sabe qual é a confiável? Portanto, tente pesquisar em sites confiáveis. Você sabe quais são eles? Ao recorrer a um livro, este também pode ter lá seus equívocos. O jeito, então, é ser mesmo orientado para esse processo no conhecer.
É importante a presença desta ferramenta chamada computador nas unidades escolares? Sim, mas sem essa condicionante de que sem ele não há qualidade de ensino. Isto há, desde que haja biblioteca, professores (as) comprometidos com o saber, o conteúdo que se ministra e com espaço para leitura, entretenimento e vocação educacional daquele espaço devidamente compartilhado com a comunidade familiar. Fora isso, é um engodo imaginarmos o computador como ferramenta de superação do conhecimento. Várias gestoras educacionais têm adotado estratégias, que têm possibilitado a remoção de obstáculos na aquisição do conhecimento. Vários pontos educacionais têm buscado na comunidade a superação de seus problemas estruturais. Estar atento aos avanços tecnológicos e saber utilizá-los é oportunismo saudável. Diferentemente é acreditar que a ferramenta por si já é o bastante para constituir saberes sem prévias ferramentas de acesso.
(*) professor