Estimado leitor, Maria não tem certeza se deseja mesmo seguir a vida de religiosa. Para ter tempo de refletir sobre o assunto é enviada para a mansão do capitão viúvo Georg Von Trapp, para trabalhar como governanta. Lá ela encontra os seus sete filhos. O capitão nunca fica em casa e trata os filhos como se fossem todos marinheiros do seu navio.
Maria não demora em perceber que as crianças sentem muita falta do carinho da mãe falecida e que o pai não consegue preencher essa lacuna. Com o tempo, Maria conquista a confiança de todos, inclusive do capitão, e ambos se apaixonam. A espreitar esse amor nascente, duas complicações: a rica baronesa com quem o capitão está comprometido e o pesadelo do nazismo, que nos anos 30 começava a mostrar suas garras.
Pois bem, esse é o enredo do musical da Broadway mais famoso de todos os tempos: A Noviça Rebelde (há um excelente filme de 1965, com Julie Andrews no papel de Maria, que foi premiado com cinco Oscars). Desde a sua estreia, em 16 de novembro de 1959, devido ao seu enorme carisma, a peça nunca mais parou de ser encenada. Canções como The Sound of Music, Edelweiss, My Favorite Things, Climb Ev’ry Mountain, e Do-Re-Mi tiveram enorme sucesso e basta serem tocados os seus primeiros acordes para que as pessoas se lembrem delas.
Nos últimos dias 26, 27 e 28, o Centro Cultural Cenecista Joubert de Carvalho (que rende justíssima homenagem ao maestro uberabense, autor de importantes canções, dentre elas Ta-hí, gravada por Carmem Miranda) foi palco de mais uma versão de A Noviça Rebelde encenada pelos alunos do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira. Mais de 4.000 pessoas, nos três dias de apresentação, assistiram ao espetáculo.
É preciso que se diga que entre tantas pessoas, seguramente, mais da metade era adolescente de, no máximo, 16 anos. Arnaldo Antunes, ainda no tempo dos Titãs, dizia, numa de suas mais memoráveis letras, que nós não queremos só comida, queremos, também, diversão e arte.
Alertava-nos, Arnaldo, que, ao contrário do que muitos supõem, não nos saciamos somente com as mínimas coisas, representada na letra pela palavra comida. Queremos muito mais e sabemos reconhecer esse algo a mais.
A grande quantidade de jovens presentes em um musical como esse prova que, quando lhe é apresentado algo além do básico, os adolescentes – tidos como seres sempre desinteressados por tudo – sabem reconhecer o seu valor e podem, sim, consumir espetáculos culturais do mais alto nível.
Isso desconstrói um mito muito recorrente na vida contemporânea: o de que a juventude atual não se interessa por nada que tenha valor cultural. Mentira. Se a eles forem apresentados coisas de bom gosto, saberão apreciá-las. Nos três dias de espetáculo, a plateia que assistiu à versão uberabense de A Noviça Rebelde nos dá provas contundentes de que nós não queremos só comida.
Bom domingo a todos.
P.S.: Parabéns a nós, psicólogos, pelo nosso dia, comemorado em 27 de agosto.
(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM mailtmozart.lacerda@uol.com.br