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A guerra do queijo

Escolher assunto para crônica obrigatória é fogo. Acontece que são tantos os acontecimentos

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 02/03/2011 às 23:54Atualizado em 20/12/2022 às 01:23
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Escolher assunto para crônica obrigatória é fogo. Acontece que são tantos os acontecimentos semanais que a dúvida está sempre no que, qual ou quem. Vejam que aí estão o Carnaval, os horrores do Khadafi na Líbia, os re-reinvasores de terras na roça brasileira – tudo fácil de enfrentar. Acontece que no pensando reli a invasão fiscal sobre os queijos dos nossos lojistas no Mercado. Não sei se isto aconteceu somente nesta Uberaba – ou se foi uma geral ordenada pelas estruturas da nossa saúde pública. Vou contar escrito o episódio aqui em Uberaba, que todos conheceram.

Simples: uns agentes fiscais entram vistosos e poderosos, desnudam as lojas pequenas e simples, tomam-lhes os queijos que não apresentam carimbo de licença fiscal por falta de higiene da saúde pública... e desandam uma esculhambação primitiva sobre vendedores simples e tradicionais no estilo do toma na marra, se necessário pontapés em queijos teimosos que vão para o chão. Coisa simples, para eles, que carregam e encarnam a lei: devem ter ido para casa felizes, quem sabe esperando uma medalha pela sua coragem e atividade. Cai o pano, terminou o ato. Eu – e comigo muito outros – ficamos desajeitados, querendo perguntar coisas.

Por exempl era necessário o escândalo sobre questão tão pobre e gente tão simples, honesta e que no mercado ganham a sua pobre vida? Ou era mesmo para fazer teatro, intimidar os coitados e seus fregueses do queijo tradição no Brasil? Vou adiante: muita gente neste Brasil – eu no meio – cresceram comendo este queijo que chamamos mineiro e é propaganda gustativa da nossa terra. Cheguei aos oitenta em parte comendo partes de uns oitocentos queijos. Nunca tive doença – nem mínima diarréia – que pudesse levar a culpa queijosa.

Ponto dois, bem brasileir a pureza e qualidade estão assegurados por um carimbo. Ora, isto é Brasil, meus amigos, terra dos carimbos verdadeiros, falsificados, de favor ou apenas de recolhimento tributário. Desconfio – sou mineiro! – que  uma parte da patrulha sanitária representa aquela história governamental: o Brasil progride, tantos mil empregos novos foram criados – e pens criados para produzir a riqueza nacional, ou apenas para colocar afilhados e gentes desocupadas? Não se ofendam os agentes fiscais, estão cumprindo ordens que lhes deram.

Apenas, e com meu senso profissional: aqueles queijos criminosos e destroçados: não mereceriam um exame por amostragem, inclusive para prova e conhecimento daqueles que como eu “queimam” na frigideira aquele nosso sabor e saudade da infância. Outra besteira, vão pensar: fermentos e bacilos são essenciais para os caríssimos queijos europeus, Espanha, Portugal, França e tudo mais. Aqui batem o cacete sem nos contar e provar quais são os venenos do nosso mineiro calado, obediente e pobre. Não vai morrer, afinal isto é Brasil.

Alguns organizados e ricos vão bater o selo de pureza e ganhar dinheiro. Nós outros, em produção artesanal, vamos comer escondido, nas chácaras, sítios e fazendas. Ninguém vai morrer nesta guerra, bem ao estilo brasileiro. Os pobres pagarão menos, os ricos mais – isto é justo. Apenas, e de forma dolorosa e brasileira: porque a lei aqui não vem calçada e explicada? Porque bater primeiro, e sempre nos mais fracos? Gosto de exemplificar: o Orides Simeão, que esta semana fez 102 anos, foi nosso gerente de fazenda, doidão por leite e queijo do Rio do Peixe até hoje. O que está errado, o Orides ou o queijo? Ou os outros?...

 

(*) médico e pecuarista

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