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A história se repete

George Orwell, no início do século passado, escreveu um livro que se tornou famoso...

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 03/09/2017 às 12:18Atualizado em 16/12/2022 às 10:47
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George Orwell, no início do século passado, escreveu um livro que se tornou famoso. Apesar de não chegar a 100 páginas, é muito oportuno. “A Revolução dos Bichos”. Conta-nos que, numa fazenda bem administrada e produtiva, os suínos se revoltaram e tomaram o poder. Eram animais ignorantes, sem prática administrativa, mas ambiciosos. Não passou muito tempo, logo se formou um grupo de chefia, gozando de todas as regalias, corruptos e corruptores. Logo fizeram aliança com outros grupos e passaram a gozar de todas as benesses. Bem, nem é preciso dizer que a massa dos suínos continuou na mesma miséria. Aos poucos, tudo aquilo foi sendo conhecido e daí começou a desmoralização dos dirigentes. Todas aquelas excelências perderam suas auréolas e toda sua nudez vergonhosa veio a público. Os súditos aos poucos foram se acordando. Aumentava o “panelaço”.

A alegoria de George Orwell me faz voltar aos meus tempos de Ginásio. Lembrei-me das fábulas de Esopo. Quatro séculos antes da Era Cristã, já enxergava as coisas. Fedro (Phedrus) traduziu as fábulas para o latim e nós, como dever de casa, tentávamos traduzi-las para o português. Eram fábulas de sentido moral. Uma dessas fábulas era intitulada “A revolução das rãs”, se não me engano. Contava-nos Esopo que as rãs de uma determinada lagoa se cansaram de sua rainha dirigente. Ela era enérgica, corrigia o que era errado, prendia os ladrões, eliminava os corruptos. Era acusada de excesso de justiça, não facilitava as coisas, não havia um jeitinho para sair do castigo. Os deuses, sempre bondosos, compadeceram-se das rãs e enviaram-lhes uma rainha boazinha. Ela fechava os olhos (sempre dizia “eu não vi nada”), ignorava a patifaria, não castigava os corruptos, valorizava os incompetentes. O resultado é que aquela lagoa virou uma bagunça. A rainha dizia que era uma lagoa socialista, mas ninguém olhava para o social. As rãs, então (falo das honestas), voltaram aos deuses e pediram que dessem um jeito naquela anarquia. Os deuses, desta vez, enviaram-lhes um imenso grou, daqueles que a gente vê na televisão, canela preta e comprida e de pena cor-de-rosa. O novo rei começou seu reinado comendo as rãs. Uma dúzia por dia. Tinha poder absoluto. Promulgou leis violentíssimas. Os tanques foram para as ruas (numa fábula isso é possível...). Eliminou os líderes. Torturou os recalcitrantes. Foi um Deus nos acuda.

De vez em quando, penso naquele grou. Não naquele cor-de-rosa. Meu medo é que o grou venha vestido de verde.

O grou está muito calado. Está lá em seu canto sem dar palpite, mas diante de tanta corrupção, de tanta falta de vergonha, ele pode acordar.

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