Acordo cedo e, de repente, o dia ainda nem vem amanhecendo e eu penso
Acordo cedo e, de repente, o dia ainda nem vem amanhecendo e eu penso no que fazer da crônica, porque hoje é dia e tem gente que quer saber o quê ou de quem eu vou falar. Então, eu me lembro do mestre português que escreveu sem botar nenhum ponto ou vírgula, de certo porque também estava cansado da lida ou da vida, igual estou hoje de madrugada, pensando em tudo que já passei.
Estou passando e vou passar neste mundo cada vez mais atropelado das vidas e seus problemas, desde o governo até o Mané, que passa pela rua depois do lixeiro, esperando que alguma coisa tenha ficado pra ele aproveitar, mas não vale a pena sofrer neste pensar pequeno, porque só um café ligeiro, roupa hospitalar e carro velho descendo para o centro; a vida e a Margarida do pronto-socorro no hospital e motocicletas fazendo acrobacias no caminho entre os carros que se confundem, pensando onde é que vão estacionar, porque este é desde já e cedo o seu maior problema ali no centro, num dia de cortar o cabelo, ficando longe demais e sabendo que a polícia vai passar e pendurar a multa no pára-brisa.
Depois, não adianta chorar, porque ontem mesmo senti a força da lei, quando no carro atendi meu celular; era um chamado de doente no hospital. Ao meu lado estava o carro da polícia e o motorista avisando que seu colega, ao lado, já estava anotando minha falta e a multa que teria de pagar, mais cara que a consulta da Unimed e da própria PM. A lei é severa de menos com a meninada do posto puxando um crack de madrugada e contando uma farra pras garotas alucinadas e irresponsáveis, enquanto mamãe foi passear no Araxá, em fim de semana, e a Dilma, sem pensar na droga, porque da droga do governo e seus políticos ela já está cheia e a única pessoa que saiu cheia deste governo foi o Palocci. Enquanto isso, eu vejo um fusca bem velho e sem freio bater de frete na lâmina do trator estacionado e eu vaso ligeiro pra não ser testemunha, porque basta ver e testemunhar as besteiras dos nossos vereadores, deputados e senadores, batendo cabeça um com os outros.
Lá no Rio a polícia e os tanques da droga sobem o morro da Mangueira e declaram que ele está limpo, de certo porque o morro do Alemão foi um exemplo da vitória contra a droga, esquecendo que o Rio tem quatorze morros e comunicação perfeita entre seus chefes, sempre avisados e prevenidos por algum chefe policial sabedor e bom amigo, enquanto nós, por aqui, não temos os morros, mas a porta do grupo escolar, que é suficiente para uma boa negociação entre os fregueses na idade de mamando a caducando, porque o crack etcétera serve para todos.
E viva o Brasil e vocês, que por hoje ficam livres de mim!
(*) Médico e pecuarista