Oscar Niemeyer, embora comunista, foi um arquiteto
Oscar Niemeyer, embora comunista, foi um arquiteto de igrejas, também. Que sabor deve existir nesta antítese? Talvez a indelével e gostosa indiferença. Senão, porque do excesso de homenagens que se prestam a ele. Não deve ser pelo paradoxo, mas pelo traço arquitetônico inovador. Os seus desenhos são suaves, são linhas que brotam do chão como se fossem vidas saídas da terra em leveza do céu. A beleza é assim, e a estética a depura, no entanto, não nos melhora e nem nos posiciona eticamente, só nos deixa mais suaves para a vida, inobstante prescindir do outro. Artistas não morrem. Heróis e outros, sim. Morremos, e nós, brasileiros, somos assim; amamos a morte em homenagens e em carregamento de corpos. Deslocamo-los de lá pra cá. Enquanto a morte nos contempla em uma novena interminável para que ninguém sobreviva, velamo-la aqui e ali. As filas são sempre intermináveis. O féretro em carro de luxo segue à frente, seguido de admiradores. Outros vão sobre o caminhão de Bombeiros. Alguns morrem cedo, no amanhecer da vida. Conheci uma menina que não pôde nem nascer. E um menino que, por causa do craque, levou um tiro à queima roupa. Naquele dia ele havia jurado largar o vício. Difícil. Ninguém o larga impunemente, é preciso ser punido antes, para depois largá-lo. A regra é assim. Oscar Niemeyer introduziu o modernismo no Brasil e nos fez Charles Chaplin de sua arquitetura. Enquanto ele, como Oscar Witter, delirava com os seus sobre pranchetas, sem querer saber da ocupação, senão da beleza arquitetada. E, assim, ficamos como Kafka em nossas convivências traçadas na beleza da arquitetura do outro, ridícula em seus espaços de ocupação humana, porque o traçado é para a admiração, e não para a leveza do existir lá dentro. Aquele arquiteto é símbolo, é venerável, é querido, e lhes pergunt quem não quer ser, tendo ou não mérito? Conquanto, temos os nossos pecados. Os meus vocês dizem e os dirão nas esquinas. Os seus também serão falados. Somos assim. Não tenho amigos e nem dinheiro para acobertá-los, como Oscar Niemeyer acobertou os seus, a exemplo de Luiz Carlos Prestes. Os meus amigos são simples e nunca violentos. Têm por ideal outras coisas, e não aquelas absurdas ideias defendidas por aquele. No mais, amigos são e ponto. A morte nos contempla por inadiável caridade necessária, porque, senão, ficaríamos a azucrinar numa eternidade corpórea sem que o outro aquentasse. Por isso a sabedoria eterna nos fez finito; do contrário nos igualaria ao infinito e passaríamos da diferença à igualdade. Sei lá o que poderia representar isso, a não ser o que eu disse. Talentos precisam de espaços novos. Que bom que a estética e a ocupação urbana poderão passar por novas concepções. A beleza e a estética agradecem. Precisamos sempre de uma arquitetura do corpo, que ronda o coração e se preocupa com o bem-estar, e não só com a beleza, embora imprescindível. Portanto, possível na conciliação.
(*) Professor