Nas nossas mentes e em nossos corações há “sonhos mal sonhados” como a paz, sobretudo a paz interior. Nosso mundo exterior se torna um campo de guerra. O mesmo acontece com nosso mundo interior.
Sem nenhum romantismo, paz é sonho e procura. É horizonte que se afasta cada vez mais. Na medida em que o mundo se torna “uma aldeia global”, cresce nossa intranquilidade.
Existe uma paz interior. Uma paz que brota do fundo do espírito humano. É a resultante de um equilíbrio interior. Quando as nossas faculdades espirituais estão em ordem, há equilíbrio interior e daí brota a paz. Quando nós nos deixamos dominar pelos instintos, não vivemos em paz. Partimos para o pessimismo, para a intranquilidade, para a angústia, para a desesperança.
Paz não é fruto de nossos egoísmos, de nossos ódios, de nossos recalques, de nosso desamor. Paz não é consequência de nosso desprezo pelos mais fracos, por aqueles que julgamos inferiores. Paz é fruto de uma luta contínua e difícil contra nossas inclinações destrutivas. Quando nosso interior é um campo de batalha, as coisas perdem o sentido.
Existe outro tipo de paz. É a paz social. Esta é fruto da justiça, de uma reta distribuição de bens e recursos. Não pode existir paz num país como o nosso em que, em certas regiões, o salário mínimo não chega a 500 reais. Num país em que o salário dos aposentados vai minguando ano a ano. Não pode haver paz num país em que não há escolas para todos. Não há paz onde não há hospitais para todos e os pobres morrem nas filas de espera. Não há paz onde não há emprego para todos. Não há paz no país em que os representantes do povo se envolvem em negociatas imorais e em deslavada corrupção. Não há paz onde o poder aquisitivo do pobre transforma-se em angústia de sobrevivência.
Paz é procura. É uma luta de todos os dias. De todas as horas. De todos os minutos. Não podemos entender o “caminho para a paz” enquanto não tivermos coragem para denunciar as injustiças sociais. É uma luta cada vez mais difícil. Exige de cada um de nós boa dose de coragem e doação. Traz incompreensões e sofrimento.
Somos cristãos. Conhecemos as bem-aventuranças. Uma delas nos alerta para a luta, para o sofrimento que ela traz consig “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino de Deus” (Mt4,10).
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro