A semana que hoje declina foi marcada por dois fatos dignos de registro: primeiro, os 100 anos da Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães
A semana que hoje declina foi marcada por dois fatos dignos de registr primeiro, os 100 anos da Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães no dia 08/04/08, e, segundo, o cumprimento de mandado judicial para desocupação da área ocupada pelos sem-teto no bairro Cidade Ozanan. Embora não pareça, pode-se traçar um perfeito paralelo entre a biblioteca e a posse da terra. Da primeira podemos sugar ao máximo o seu néctar e com ele deixarmos um legado. A terra permite o mesmo, porém traz consigo o condão de provocar desavenças. Não há guerras por livros, mas o homem guerreia pela terra como se fosse levá-la consigo para o além.
Este texto recebeu suas primeiras linhas lá mesmo, nas terras invadidas, quando ali fui no dia 07/04/09 para conhecer aquele erroneamente denominado “campo de guerra”. Na quarta-feira, ou melhor, no dia marcado para a desocupação tentei voltar àquele assentamento, mas fui desaconselhado por dois repórteres amigos. Balas perdidas poderiam pipocar, disseram. Nada ocorreu ainda e essa contenda vai longe. É louvável o empenho das autoridades para que o sangue não seja ali derramado.
Bibliotecas não são invadidas para ser usadas pelos leitores. A terra, ao contrário, carrega o estigma da invasão. O homem sente-se pequeno frente à casa dos livros, mas, diante da terra, imagina-se um gigante dominador, mesmo sabendo que um dia ela vai devorá-lo. Não há quem defina cabalmente o valor de uma biblioteca, ainda que ela tenha um só livro, ou esteja literalmente completa. Em vida lutamos pela posse da terra e, depois, somos obrigados a nos contentar com um diminuto retângulo de 1mx2m. O dono de um livro é o seu legítimo dono, e o da terra não passa de um inquilino passageiro. Estou errado?
A Biblioteca Bernardo Guimarães e outras também públicas são do povo e estão perenemente protegidas contra esbulhos. A terra muda de mãos e, se for esbulhada, um dia voltará ao seu verdadeiro dono ou sucessores... Isso é “Lei”. Assim penso quanto às invasões, sem desprezar o direito à propriedade. Entrando e saindo das bibliotecas, tenho conquistado estas conclusões.
(*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro