Existem certos tipos de acontecimentos raros. Alguns, feliz ou infelizmente, acontecem poucas vezes ou apenas em uma oportunidade. Porém, quando acontecem, conseguem mexer com a vida e a história de uma cidade, país ou planeta. Por exemplo, não é todo dia que se ouve falar de um homem, cego há mais de vinte anos, voltar a enxergar por meio de métodos artificiais. Também, apesar da violência que assombra nossa nação, não é comum ver bandidos, após assaltar civis, empurrá-los morro abaixo, por pura crueldade. Interessante é que quem os prendeu foram bandidos, inconformados com as proporções que o caso tomou. O que dizer de um padrasto estuprando sua enteada, de apenas nove anos, e quando a mãe opta pelo aborto, a fim de garantir a vida da filha, a Igreja a excomunga, juntamente com todos os médicos envolvidos no procedimento? Além de ser no mínimo estranho, é raro e mexe com a opinião pública. Até porque não nos foi avisado se o padrasto não recebeu a excomunhão... No esporte também existem fatos e pessoas únicas e, por isso, inesquecíveis. Ayrton Senna, Pelé, Zico, Hortência, Michael Phelps, Lewis Hamilton... e Ronaldo! Foi indescritível a alegria de vê-lo voltando aos gramados. Corintianos ou não, a maioria dos brasileiros torce pelo homem, inspiração quando o tema é superar dificuldades. Poder assistir pela TV ou, melhor ainda, estar no estádio naquela noite, é algo fenomenal e digno de boas histórias para futuras gerações. Aqui, na terrinha querida, também temos fatos raros envolvendo nosso esporte mais querido, o futebol. Eu, por exemplo, não me lembro de ter visto o Uberaba Sport tão bem em um Campeonato Mineiro. Para se ter uma ideia, no ano passado, quando a equipe fugiu do rebaixamento apenas na última rodada, o time conquistou 12 pontos em toda a primeira fase. Hoje, faltando quatro jogos para o término da etapa inicial do torneio, o USC já tem 10 tentos. É importante ressaltar que, além dos pontos, o time ainda não conquistou nada, nem mesmo a tão sonhada classificação. Mas, a boa campanha e o fato de não estarmos naquela angustiante torcida para não sermos rebaixados já é algo histórico para o clube e toda a cidade. Quem imaginaria um colorado brigando de igual para igual contra o todo-poderoso de Minas Gerais, o Cruzeiro, quando a equipe local só não ganhou o jogo porque não havia mais tempo? Longe de querer desmerecer atletas e clube. No entanto, o passado nos fez pensar pequeno. Como eu cheguei a dizer no início do Mineiro, a torcida do USC, mesmo sabendo que o time tem potencial para ser águia e reinar soberana, esperava apenas uma galinha, que ciscando aqui e bicando ali, conseguiria seu objetivo de sempre: fugir da degola. Não estávamos acostumados – mais uma vez, sem querer desmerecer ninguém – a lutar pela classificação. E isso – esta nova linha de objetivos – já é um fato inesquecível para todos os torcedores. Muitos chegam a afirmar que o ano de 2003, na época do atacante Gilson Batata, em que o clube conquistou o Módulo II do Estado, foi um tempo de grandes glórias. Porém, discordo. Pela grandeza do Uberaba Sport Club, conquistar tal título era mera obrigação. Por isso, sobretudo os mais jovens como eu, guardem na memória o ano de 2009. Pois pode ser apenas o marco inicial de uma nova era na vida do USC, com o time sempre brigando para ficar entre os melhores, ou apenas um ano atípico, se comparado aos longos anos de vacas magras na terra do zebuzão e, portanto, um ano inesquecível.
