Para constatar que todos nós, seres humanos, temos noção inconsciente da Reencarnação, desde os primórdios do aparecimento do homem, na Terra, transcrevamos, por agora, mais dois sonetos de Olavo Bilac, deixando o último, de que temos conhecimento, para um dos próximos artigos.
Eis o primeiro, que se encontra na página 288 de suas Poesias, também publicado na revista Reformador 1950, página 45, órgão mensalmente lançado pela Federação Espírita Brasileira, há mais de um sécul
“A UM TRISTE
Outras almas talvez já foram tuas: / Viveste em outros mundos... De maneira / Que em misteriosas dúvidas flutuas, / Vida de vidas múltiplas herdeira! // Servo da gleba, escravo das charruas / Foste, ou soldado errante na sangueira, / Ou mendigo de rojo pelas ruas, / Ou mártir na tortura e na fogueira... // Por isso, arquejas num pavor sem nome, / Num luto sem razã velhos gemidos, / Angústias ancestrais de sede e fome, // Dores grandevas, seculares prantos, / Desesperos talvez de heróis vencidos, / Humilhações de vítimas e santos...”
O segundo soneto, também de grande beleza, encontra-se na p. 343 do livro sob nossa análise, e se intitula:
“AVATARA
Numa vida anterior, fui um xeque macilento / E pobre... Eu galopava, o albornoz solto ao vento, / Na soalheira candente; e, herói de vida obscura, / Possuía tud o espaço, um cavalo, e a bravura. // Entre o deserto hostil e o ingrato firmamento, / Sem abrigo, sem paz no coração violento, / Eu namorava, em minha altiva desventura, / As areias na terra e as estrelas na altura. // Às vezes, triste e só, cheio do meu desgosto, / Eu castigava a mão contra o meu próprio rosto, / E contra a minha sombra erguia a lança em riste... // Mas o simum do orgulho enfunava o meu peit // E eu galopava, livre, e voava, satisfeito / Da força de ser só, da glória de ser triste!”
Concluindo, vejamos este poema construtivo, nas Poesias Infantis (Livraria Francisco Alves, 17ª edição, 1949, pp. 119-120) de nosso Bilac, intitulado Modéstia: // Se a todos os condiscípulos / Te julgas superior, / Esconde o mérito, e cala-te / Sem ostentar teu valor. // Valem mais que a inteligência, / A constância e a aplicaçã / Sê modesto! estuda, aplica-te, / E foge da ostentação! // Mais vale o mérito próprio / Sentir, guardar e ocultar: / Porque o verdadeiro mérito / Não gosta de se mostrar.”
(*) clínico geral e psiquiatra