É assustadora a quantidade de gente que passa e morre de fome no mundo
É assustadora a quantidade de gente que passa e morre de fome no mundo. Essa é uma realidade triste também no Brasil, num país que produz grande quantidade de alimento de todos os tipos e é recorde na colheita de grãos produzidos pelo agronegócio. Mas é uma produção que não privilegia a vida das pessoas mais carentes e incapazes de produzir o necessário para sobreviverem.
No deserto em direção à Terra Prometida, a Palestina, o povo oriundo da escravidão do Egito também experimentou a falta de alimento. A fome provoca reação forte de quem vivencia o sofrimento e se manifesta com atitudes de revolta. Foi assim que aconteceu com o povo da aliança de Deus, mas acontece também com os famintos dos novos tempos, porque são inconformados com a falta de partilha.
O fundamental é acreditar na providência de Deus, mas não ficar apenas na expectativa de receber tudo de graça. Mesmo com um mercado de trabalho insuficiente para todos, há iniciativas que suprem a falta de emprego. É o momento da criatividade, a pessoa tendo infelizmente que fazer os chamados “bicos” para não deixar a família viver sem o necessário para uma vida “digna”.
Todos os brasileiros esperam por dias melhores, mesmo tendo que conviver com os desmandos governamentais e as atitudes irresponsáveis de muitos de nossos políticos. Aliás, as eleições estão chegando e é hora de dar um basta naqueles que têm o caminho político como cabide de emprego. Agem tapeando o povo e não medem as consequências das atitudes individualistas praticadas.
É triste ver como vivem as pessoas na total situação de pobreza, sem proteção, sem roupa, sem dinheiro e sem alimento adquirido com seu próprio trabalho. Isso fere a dignidade das pessoas e as colocam numa condição de total vulnerabilidade humana. Muitas começam a agir com agressividade e perdem totalmente o estímulo para o trabalho. Acabam tendo que ser “parasitas” na comunidade.
Numa visão cristã, Jesus e a sua Palavra são alimentos para plenificar a dignidade das pessoas, mas alimentos com dimensão de eternidade, que dão sentido para a fome humana. Jesus se apresenta como o pão que desceu do céu, quando diz: “O pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo” (Jo 6,51). Quem partilha a Eucaristia precisa partilhar também os dons da vida terrena.
(*) Arcebispo de Uberaba