São duas realidades muito interessantes no contexto da sociedade. À primeira vista, entendemos o amor como uma realidade interna e sobrenatural. A política como situações mais externas e sociais. Mas, na verdade, as duas são concomitantes e se interligam no exercício das atividades humanas. Uma enriquece a outra quando assumidas dentro da dinâmica da responsabilidade no agir.
O Papa Francisco cita na Fratelli Tutti um caso prátic alguém ajuda um idoso na travessia de um rio, fazendo com ele um gesto de caridade. Quando um determinado político defende o projeto da construção de uma ponte naquele local, também está realizando um gesto sublime de caridade, que enobrece sua ação política. Assim, o político tem muitas oportunidades para realizar atos de caridade.
A caridade deve ser o coração do espírito da política. Desta forma, o político consegue perceber a dignidade das pessoas para as quais exerce seu trabalho. Mais ainda, consegue valorizar o princípio da subsidiariedade e de solidariedade, vendo aí possibilidades para construir uma sociedade mais sadia e participativa. O contrário disso significa desvalorizar os dons naturais nas pessoas, nos pobres.
No meio de uma cultura do descarte e do individualismo, o político é convocado para cuidar da fragilidade das pessoas de seu ambiente administrativo, mas com visão também além-fronteiras. A sociedade sofre vendo fenômenos excludentes como tráfico de seres humanos, órgãos e tecidos humanos, exploração sexual de meninos e meninas, trabalho escravo, etc., e clama por ações políticas honestas.
Há situações graves de desrespeito humano acontecendo no mundo, que não podem ficar alheias à ação dos agentes políticos. A fome, por exemplo, é criminosa, porque mata muita gente. A alimentação é um direito inalienável para todas as pessoas. Não é porque está faltando alimento, mas existe falta de uma política que se preocupe mais com a vida do que com interesses particulares.
É fundamental destacar o valor do respeito, de um amor capaz de aceitar as diferenças, para haver intercâmbio de dons a favor do bem comum. Essa deve ser uma política aberta a todos, sem fanatismos, onde os políticos deem espaço às vozes destoantes, evitando intolerâncias, disseminação de ódio e medo, trabalhando para possibilitar condições de convivência e de paz.
Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo de Uberaba