Primeiro gesto de amor: Zilda Arns, médica catarinense
Primeiro gesto de amor: Zilda Arns, médica catarinense, com trabalho reconhecido pela UNICEF, idealizou e pôs em prática um extraordinário plano de amparo à criança carente: a pastoral da Criança. Morreu não faz tempo, vítima de um desmoronamento em Haiti, enquanto procurava um lugar para abrigar crianças. Seu trabalho coordena centenas de núcleos em todo o Brasil. Zilda era católica, irmã de Dom Evaristo.
Segundo gesto de amor: Alberto Schweitzer, teólogo protestante, Prêmio Nobel da Paz, Prêmio Goethe de literatura, filósofo, apaixonado por Bach, percorreu quase toda a Europa dando concertos musicais. Aplaudidíssimo. Aos trinta anos abandonou tudo. Formou-se em Medicina e foi viver na África. Não escolheu nenhuma capital, mas uma aldeia miserável, Lambarque. Fome, doenças, total pobreza, desamparo, foi o que encontrou e abraçou. Ali, abrigando, curando, amparando, prestando serviços, viveu até os noventa anos, sempre ajudando.
Terceiro gesto de amor: Peter e Steve, dois jovens, pouco mais de vinte anos. Idealistas, ansiavam por ver os homens pensar por si mesmos. Como testemunho, que não se deixassem envolver por uma situação hedonista e, sobretudo, comunista. Como testemunho, aceitaram viver na pobreza voluntária, nenhum desses luxos, sem rádio, sem televisão, sem carro, sem cigarros, sem cinema, sem nenhum desses luxos que chamavam de “dispensáveis”. Assim o fizeram para que se tornassem aptos para adquirir o útil e o necessário. Peter e Steve eram militantes marxistas. Eram ateus.
Quarto gesto de amor: Joseph Damien, jovem belga, quando estudava na Universidade de Louvain, soube que existia uma ilha na Oceania, Molokai, onde os leprosos de várias nações eram despejados e abandonados como um recurso de profilaxia. Damien, depois de formado, pediu aos seus superiores para pregar o “Evangelho” naquela ilha maldita. Com a permissão, Damien partiu e nunca mais voltou. Com o tempo foi contaminado pela lepra. Viveu entre os leprosos para levar àqueles irmãos o conforto da Fé, num inconcebível gesto de amor. Damien era padre católico.
Li, não faz muito tempo, uma frase do Dalai Lama, monge budista: “Para amar não precisa ter religião”. Inicialmente, fiquei chocado com aquela afirmação, mas, refletindo além de meus preconceitos, passei a compreender o que o santo monge queria dizer. Os grandes gestos de amor, venham de onde vier, não deixam nunca de ser gestos de amor. Venham de onde vier, eles constroem o Reino de Deus. Foi o que Santo Agostinho deixou clar “Tudo o que é bom, mesmo partindo do coração de um ímpio, coopera para construir Cidade de Deus”.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro