ARTICULISTAS

Ana Carolina

Ah! Natureza que se tipifica na individualidade espiritual de cada indivíduo

Gilberto Caixeta
gilcaixeta@terra.com.br
Publicado em 12/07/2011 às 19:36Atualizado em 19/12/2022 às 23:25
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Ah! Natureza que se tipifica na individualidade espiritual de cada indivíduo, com as suas histórias pregressas e futuras.  O presente é relâmpago contínuo, que se instalou num pretérito imponderável para aqueles que creem que a matéria é o único objeto possível de conhecimento. Por desconsiderarem o abstrato, o invisível, a estética os deixa estacionados em cômodo de pouca luminosidade. O consumo de cultura, a leitura, a arte, o lazer soam como desnecessários frente à tecnologia invasiva e aos descuidos na moldagem do caráter. Poucos raleiam o sangue numa boa prosa, num afeto de mãos, na saudade do vivido, na entrega de seus sentimentos à prole. Entre o consumir de objetos e o consumir de valores, frutifica a natureza individual humana. Onde a história pessoal é escrita e vivenciada continuamente, formando, assim, esse mar humano revolto em ondas nas mais variadas velocidades e maresias, impregnando o seu ser e o ser social. Tudo que está à volta, vagarosamente é absorvido pela natureza individual, de forma adormecida ou pujante, proativa ou reprimida, censurado ou libertado.

Quando chegamos naquela praça, nem todos os bancos estavam vazios, mas o tablado, que ali há, estava repleto de cadeiras e mesas, que de longe se podia ouvir o vozerio lançado ao vento. Uma multidão de indivíduos confraternizava entre si, com pessoas de seus relacionamentos; bebiam, fumavam, lambiscavam acepipes.

Uma menina, de cabelos longos e bem cuidados, andava como se fosse moça, sorria em cumprimentos, a sua pele branquinha ressaltava os lábios vermelhos. Não era puxada pelas mãos dos pais, não havia contrariedade por estar ali. Quando ela chegou à nossa mesa, e por eu estar sentado, pude vê-la em altura igual e perguntei como ela se chama. Respondeu-me: Ana Carolina. Em seguida os pais chegaram. A mãe – Flávia – foi minha aluna, o pai – Karin – não; por falta de destino comum. Ana Carolina é uma menininha meiga, suave, tranquila e gosta de conversar com pessoas com diferenças etárias gritantes. Sentou-se hora no colo da mãe, outra vez na cadeira. Você gosta da sua escola? “Já sei escrever o meu nome, algumas palavras e leio.”

A natureza de professor logo se mexeu entregando a ela papel de bar e caneta recolhida do bolso da camisa do pai. De mãos fininhas, os dedinhos agarraram-se à caneta sem constrangimento e foi logo escrevendo o seu nome e sobrenome e tudo. Ditei algumas palavras e ela foi escrevendo, outras que saiam de sua cabeça, ela as repassava para o papel, que meus dedos prensavam para que a caneta melhor deslizasse em superfície fina. E ali ficamos. Ela escrevendo e eu gostando de ditar palavras, até que ela preenchesse todo o guardanapo.

- “Vou escrever uma crônica para você!” Logo a sua natureza curiosa quis saber o que era isso, aonde sairia a crônica. Tomara que ela leia essa minha homenagem a ela, e aos que gostam de filhos e, por isso, os educam, os conduzem até que um dia a natureza individual explode e cada um toma o seu caminho, carregando em uma das mãos a sua natureza e na outra os valores, os bens abstratos recebidos dos pais. Aí eles estarão prontos para escreverem as suas próprias histórias.

 

(*) Professor

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