Guardo na memória uma queixa de Bergson, o grande filósofo francês: “Dediquei grande parte de minha vida à busca da verdade. Teria sido bem melhor que se tivesse procurado ser bom”.
É muito importante “ser bom”. Não somos marcados pelos intelectuais, pelos moralistas, pelos disciplinadores. Somos realmente marcados pelos bons. Talvez seja por isso que admiro os santos. Eles foram homens bons, ou mulheres de grande coração. Andaram pelos caminhos que nós andamos. Pecaram como nós pecamos, muitas vezes até gravemente. Mas, foram bons. Foram compassivos.
Mais uma vez: para mim, na vida dos seres humanos, o mais importante é ser bom. Bom não é ser bonzinho, mas é aquele que tem compaixão pelo outro. Esta palavra tem um significado muito alt com+paixão. O compassivo não é aquele que tem dó do outro, mas aquele que vive junto o problema do outro. Não ajuda porque tem dó. Ajuda porque vê no outro um irmão. É algo mais que empatia. É um viver com. A dor dele torna-se minha dor. Isto é meio complicado. Por isso somente pessoas de muito desprendimento, de muita fibra, conseguem esse patamar. Só é compassivo o verdadeiramente forte.
É por isso que gosto dos santos. Tenho um amigo “crente” (ele não gosta que eu o chame de crente nem de protestante, ele se diz evangélico), pois bem, esse meu amigo evangélico me critica porque tenho em minha casa imagens de santos. Parece que falta nele um sexto sentido para perceber que os santos são nossos modelos de vida, viveram até as últimas consequências a sua fé. São gente realmente compromissada com os mais fracos. Foram, na terra, gente de coração bom. Se meu amigo pensa que adoro santo, é porque ele anda fora do contexto.
Para muitos, os santos são figuras estranhas, diferentes do comum dos homens, gente de vida sacrificada, sem alegria. Para muitos dão a impressão de gente triste, de gente fracassada, sem virilidade.
A maioria da vida dos santos é mal escrita. Desfiguram os santos. Misturam lendas, fatos ridículos, melosidades que provocam risos. Uma xaropada.
Além de nos mostrar todas essas distorções, eles nos pedem que imitemos essa gente tão estranha. É preciso imitar a humildade de um, a compaixão de outro, a obediência de um terceiro, a fé de um quarto e assim por diante. O santo não é um beato. É um forte.
Santos foram gente normal como todos nós. Homens e mulheres que lutaram como nós lutamos. Sofreram como nós sofremos. Tinham defeitos como nós temos. Pecaram como nós pecamos. Por que, então, são chamados santos? Simplesmente porque levaram a sério uma proposta de vida. Porque se entregaram a um trabalho construtivo de realização de um projeto de vida dentro do que nos foi pedido por Deus, através de seu Filho. Lutaram para criar laços de fraternidade entre os homens, laços de amor, de compreensão, de tolerância, de paz, de serviço desinteressado. Não foram imitadores de Jesus, não se imita Jesus, mas se aceita sua proposta de vida, se compromete com ela. O resto é consequência. Estaria eu dizendo tolice se afirmasse que a santidade é uma vocação de todos nós? Pense.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro