Por onde ando? Por que caminhos me direciono? Os caminhos do passado? Os caminhos do presente? Ou os caminhos que advirão?
Qual meu tempo? Qual teu tempo? Tu que passas à minha frente, que tempo vives? O tempo da memória, o tempo da esperança, o tempo do nada mais esperar?
Leio em Cassiano Ricard “a esfera /em torno de si mesma / me ensina a espera / a espera me ensina / a esperança / a esperança me ensina / uma nova espera a nova / espera me ensina / uma nova esperança / na esfera”
Qual meu tempo? Qual teu tempo? Qual o espaço de cada um de nós?
Ocupamos um lugar. Nossos pés se movem em passadas ora lentas, ora agitadas. Nossos pensamentos se enveredam por tempos já vividos, tentando captá-los numa rosa que se vê, numa canção antiga que se ouve, num sino que toca lá longe, no abrir-se de um sorriso infantil, lembrando o sorriso dos filhos, já adultos feitos, no carinho entre um casal de namorados, na lembrança do amor que deixou marcas, saudade e solidão.
O que me ensina a esfera? O que te ensina a esfera? A esperar, esperando o trem imaginário do Chico Buarque, mas verdadeiro para o Pedro Pedreiro que também espera o sol, ou a sorte, ainda a morte? O que nos ensina a esfera? Que nos devemos deixar levar por seu rodopio e com ela rodopiar, como que num bailado absurdo de esperas e esperanças?
Andanças! Andanças do ser humano, no tempo e no espaço. Os passos, ora lentos, ora alucinados em buscas impossíveis, em anseios que provocam esvaziamento da alma, talvez já exaurida em sua peleja. Buscar o quê? A esperança na esfera? A ilusão de que é possível catar pedaços da existência, no rodopio do tempo e vivê-los de novo num espaço imaginário?
O que me ensina a esfera? O que te ensina a esfera? O que nos ensina a espera e a esperança?
Dentro de cada um de nós, nosso tempo, nosso espaço em andanças inesgotáveis, muitas vezes fluidas como o leve bater das asas de uma borboleta, muitas vezes suave como o esgarçar das nuvens, mas muitas vezes pesadas como o chumbo que nossas mãos não suportam.
Andanças... caminhar, até que a exaustão apague da memória do tempo e da lembrança do espaço o que deve ser olvidado ou jogado fora.