A vida inteira, apeguei-me a algum animal. Cães e gatos sempre foram bem acolhidos em casa e eram motivo de alegria para meus familiares e para mim. É certo que, no convívio com tantos bichos de estimação, também experimentamos a tristeza, com suas doenças, desaparecimento e morte. Essa última situação deixava-nos uma sensação de vazio e ficava a promessa de não mais nos afeiçoarmos a novos animais. Pelo menos até que aparecesse aquela gatinha siamesa toda dengosa...
Além dos cães e gatos que estiveram ao nosso lado, um após outro, de forma ininterrupta, outros bichos já andaram por nosso quintal: papagaios, cabritos e cabras, tartaruga (Imaginem que presente me deram!), porquinho-da-índia (como aquele da poesia de Manuel Bandeira), periquito e coelho. Ainda uma criação de galinhas e outra de porcos devem ser mencionadas. Porcada boa, que nos deu carne saborosa, toucinho e banha, com sobras para repartir com os vizinhos, que ouviam os grunhidos e guinchos dos porcos durante a matança.
Quando eu ainda era solteiro, lembro-me muitíssimo bem de ir cedo ao curral, segurando um copo com açúcar no fundo. Depois de tirar leite de Bita, uma cabra, eu virava o copo na boca de uma vez.
Mas, após o falecimento de uma dengosa gatinha, que ora nos proporcionou muita alegria, ora muita tristeza, decidimos dar um tempo até adotarmos um novo animal.
Quero dizer, tínhamos a intenção de dar um tempo, pois ganhei de um amigo um presente especialíssim um cavalo! É, sim senhores, um cavalo. Raçudo, o danado. Veio a galope, com suas patas firmes, destruidoras. Em questão de segundos, fez um estrago considerável à sua volta. Foi preciso sacrificá-lo. Não deixou saudades. Nem cheguei a agradecer a quem me deu o presente, pois ignoro quem o tenha feito.
A raça do cavalo? Para dizer a verdade, não sei. Sei só que já apareceu com nome: Cavalo de Tróia. Presente de grego, sem dúvida. Foi acolhê-lo e ele, sem cerimônia, fez essa confusão, danificando arquivos, roubando dados do computador (Será que ele devorou tudo?), travando a máquina, que ficou preguiçosa.
O remédio foi chamar o veterinário, ou melhor, o técnico especializado em sacrificar animais do gênero. Nem sei onde o bicho foi enterrado. De que forma o cavalo apareceu, também ignoro. Dizem que pode aparecer em companhia de bem-intencionadas e lindas mensagens. (Como não sou entendido de cavalos, deixo a quem milita no ramo que se encarregue de uma explicação técnica para o fato.) O ideal é fecharmos o cerco para tais bichos.
É curioso pensarmos que o cavalo, um animal enorme, é chamado, metaforicamente, nesse caso, de vírus. Virulenta espécie que não devemos cultivar!
Fui advertido pelo intrépido técnic “Cuidado para não abrir a porteira, ou seja, mensagens com dizeres capciosos: “Lembra-se de mim?”; “Veja essas fotos!”; “O seu CPF foi cancelado.”; “Atualize seus dados cadastrais.”; “O Correio lhe enviou um cartão.”; “SERASA informa...” Enfim, frases do gênero.
Há os que se ocupam em tentar aguçar nossa curiosidade para colocar vírus em nossos computadores. Felizmente, ao lado desses que se consomem fazendo o mal, há os internautas de bem com a vida, que se dedicam a dividir conosco informações, resultados de pesquisa, fotos, vídeos, jogos, músicas...
Acho que vou voltar a criar cães, gatos, tartarugas, papagaios, porcos, cabras, coelhos e galinhas. Talvez até cavalos. Mas se o cavalo for de Tróia, dele quero distância.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro
