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Aniversário de quem?

Estou escrevendo hoje, no aniversário de Jesus, dia 25 de dezembro. Uma festa que já passou

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 28/12/2014 às 11:28Atualizado em 17/12/2022 às 02:04
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Estou escrevendo hoje, no aniversário de Jesus, dia 25 de dezembro. Uma festa que já passou, mas ainda em tempo de refletir em seu significado. Ontem, véspera, duas amigas levaram-me para almoçar no Shopping. Sua atenção e delicadeza me comoveram, mas nem tudo me deixou feliz. Em quase tudo há um lado triste. As lojas, em sua maioria, estavam enfeitadas com a figura pagã do Papai Noel. Nenhum sinal religioso. Afinal de contas, de quem era o aniversário? No dia seguinte iríamos festejar o nascimento de Alguém muito importante em nossas vidas. Mas, nenhum sinal dEle. Havia até um local onde era oferecido um retrato para uma fotografia do velhote da Lapônia por apenas 20 reais. Difícil acreditar.

No meio dessa barafunda pagã, vem-me à memória (meu ponto fraco...) a lembrança de meu Natal de criança, na fazenda de meus pais. O “seo” Alberto e minha mãe. Ao redor, uma ninhada de filhos. Vejo a alegria de minhas irmãs, bem na véspera, plantando arroz em latinhas para, no presépio, significar a grama ao redor da pequena estrebaria. Vejo os boizinhos, os carneiros, as aves e aquele pequeno cocho com a figura de uma criancinha de braços abertos como nos convidando para um abraço. Ao lado uma jovem camponesa e um jovem carpinteiro. Tudo muito pobre, mas revelando um amor que não existe mais. Perdoem-me se lhes revelo que esta lembrança me fez chorar. Na fazenda havia várias famílias que chamávamos de “agregados”. Eram os vaqueiros, os capinadores, os lavouristas. Todos eles vinham, à tarde, até à sede, para rezarmos o terço diante do presépio. Todos ajoelhados. Havia vários cantos, mas esses já se perderam em minha memória. Lembro-me vagamente de uma fita vermelha que vinha do presépio e que todos nós beijávamos comovidos. Depois das orações, minha mãe preparava uma mesa com quitandas, café, leite, chá. Comíamos biscoitos de polvilho, bolos de fubá, brevidades, broas, pães de queijo, roscas. O aniversário era dEle, do Menino Jesus, daquela criança despida de todo conforto, cercado de pobres. Não havia Papai Noel, esse instrumento ridículo de venda. (Você quer um retrato com dele? Custa só vinte reais!)

A gente vai ficando idoso. O Nabut escreveu que tenho 102 anos. Tenho bem menos. Seja como for, a gente vai sendo dominado por emoções incontroláveis, voltando para o passado que, para muitos, são sentimentos de atraso. O mundo hoje é outro... (*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro thprata@terra.com.br

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