Certo amigo que veio recentemente de Brasília contou-me o seguinte: Dois ônibus interestaduais levando cada um 42 passageiros a bordo, foram assaltados. Seguindo orientações de uma autoridade policial para que não levassem dinheiro, joias e outros pertences de valor, todos os passageiros estavam desprevenidos. Nos bolsos só tinham a carteira com poucos reais e cartões de crédito. Esse foi o erro geral. Os ônibus são seguidos por dois automóveis e um deles se adianta. O carona levanta o braço mostrando um fuzil-metralhadora. O ônibus da frente poderia até ter passado por cima do carro, mas o motorista não tem essa ordem. Atrás do comboio permaneceu o outro veículo; o da frente desacelera e um tiro para cima obriga o ônibus a entrar numa estradinha de fazenda, daquelas que poucos veículos trafegam. Aí o(a) leitor(a) já imagina o que aconteceu. Num terreno arado ocorreu com os passageiros: armas colocadas na cabeça, ameaças de estupros e humilhação desmedida. O inacreditável vem agora. Diante de tantos cartões de crédito, quase nenhum dinheiro vivo, ausência de joias e outros valores, uma ordem é dada pelo chefão da quadrilha: “Toca pra cidade! Vamo tirá o dinheiro lá no caixa eletrônico! Quem errá, a senha já viu, né? Morre mesmo!” E lá foram todos para a cidade. Passageiros em duplas discretamente vigiadas desciam dos ônibus, iam até ao Banco 24 horas, traziam o último centavo que tinham na conta e o entregava nas mãos dos bandidos. O tenso e engenhoso episódio durou ali menos de uma hora. Os ônibus saíram do percurso previsto no rastreamento por satélite, ficaram numa ruazinha vicinal à principal avenida, no centro da cidade. Várias viaturas policiais com o giroflex ligado passaram pelo local e ninguém deu por fé. Depois de “limpos” os passageiros, receberam as ironias de praxe, com alguns tapas no rosto por andar sem dinheiro. “Boa viagem!”, remataram os oito senhores fortemente armados. E sumiram. Aonde chegamos! Bandidos levam dois ônibus e 84 passageiros para o Banco 24 horas! Acalme-se leitor (a)! Esse fato ainda não aconteceu, mas pelo andar da carruagem vai acontecer a qualquer momento na rota Brasília/Uberaba ou em qualquer outra desta região. A ANAC criou Juizados Especiais nos aeroportos para resolver problemas dos passageiros aéreos, enquanto que a Agência Nacional de Transportes Terrestres -ANTT - assiste impassível o horror frequente sofrido pelos terrestres. Uma boa forma para cessar os assaltos: Propor ações indenizatórias por dano moral contra os responsáveis pela segurança dos passageiros. (*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro forumarticulistas@hotmail.com