Era uma linda tarde de domingo dos anos 50. O céu de brigadeiro estava tão azul que a sua tonalidade monocromática revelava ter o Maior dos pintores lhe pintado há poucos instantes. Que dia do ano foi aquele eu não sei, mas a cena jamais saiu da minha retina mental, tanto que consigo vê-la hoje passados quase sessenta anos.
De repente ouve-se algo estranho e indefinível no ar. Minha família e eu estávamos dentro de um pequeno furgão Fordson transitando pela cidade e não faltou quem dissesse: “Meu Deus! O mundo deve estar acabando!” O veículo foi parado, saímos dele e a cidade perplexa viu no céu uma raja branca que começava em extrema altura e entrava no chão a milhares de quilômetros de Uberaba. Não tínhamos avião no mundo que pudesse fazer aquilo e haja medo para curtir depois, devido à falta de informações.
O jornal Lavoura e Comércio na segunda-feira estampou em sua página de rosto a foto da “coisa medonha” e me lembro de que os espertalhões caíram em cima a vender livros e ligar o fato com as profecias de Nostradamus, etc. Muitos perderam o sono por muito tempo.
O que era aquilo? Pouquíssimas referências vi até hoje sobre o fato e o assunto foi esquecido.
Voltando ao medo que senti aos seis anos de idade, imagino a agonia dos milhares de habitantes da cidade russa de Tcheliabinsk quando souberam que um asteroide se aproximava da terra e no dia 15/02/2013 cairia naquela região. O mais corajoso dos homens se rendeu ao temor de ser destruído pelo monstrengo desgovernado no espaço sideral. E nenhum aparelho daquela superpotente defesa espacial foi capaz de deter a marcha do gigantesco objeto que feriu mais de mil pessoas.
Anunciam que outros e outros desprendimentos cósmicos irão ocorrer. Não me será surpresa se em breve algum desses corpos de tamanhos descomunais venha se chocar conosco e nos arrasar. Desconheço qual é o tamanho do maior corpo no universo, mas carrego a certeza de que Quem o criou é infinitas vezes maior. E essa infinita grandeza vem da Inteligência Galáctica, cuja sapiência magnânima nenhum de nós viventes suplantará. Vem daí a minha certeza de que, o ponto onde um asteroide vai cair é mais do que milimetricamente calculado. Portanto, ter medo ou não, em nada influi quanto à sua trajetória.
O universo foi; é e para sempre será, mas a sua eterna harmonia, o ritmo e a quietude estão sendo alterados pelas mãos do homem. Pena é que alguns deturpam a paz universal e todos nós nos enfileiramos para pagar.
Sinto tristeza de ver o Brasil se armar, comprando componentes de defesa aérea a peso de ouro para a Copa de 2014 e saber que esses aparelhos nada podem fazer contra um minúsculo meteoro. E mais, que na minha pátria amada irmão “engole” irmão numa escalada de violência que a cada dia cresce denunciando a apatia do sistema.
(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro