Ao ver o ministro Joaquim Barbosa avisar repentinamente que apearia do mais alto cargo da esfera judiciária do país, coloquei-me a pensar e me perguntei: eu que não sou do ramo, não sou advogado, tenho alguma coisa a dizer sobre o gesto de Joaquim Barbosa?
Sem essa de, porque tenho curso superior, sou obrigado a ter opinião formada sobre o assunto; renúncia de um ministro do Supremo Tribunal Federal, combinada com o seu pedido de aposentadoria. Achei sensato sair às ruas e auscultar pessoas simples. Depois, caminhando em sentindo inverso, cheguei até os que conhecem os meandros do Poder Judiciário. Todos eles foram unânimes em dizer que “Joaquim Barbosa soube parar no momento certo”. Pelé nos deixou exemplo nesse sentido porque parou na hora certa.
Os que têm determinação no cumprimento do dever sempre navegam em águas turvas. E digo mais: não somos nós que escolhemos as missões para cumpri-las, e sim elas é que nos escolhem para levá-las a cabo. Assim é com o menino simples de Paracatu, em cujo currículo acumula somadas conquistas e certamente sairá por cima, digamos, residirá nos Estados Unidos, onde lecionará numa universidade e de lá assistirá ao reconhecimento da sua dignidade pelo seu próprio povo.
É muito difícil para alguns membros de um tribunal onde o negro, na maioria das vezes, sempre foi um cumpridor de ordens e agora, dirigindo esse mesmo tribunal, mandou poderosos para a cadeia. Muitas gargantas togadas ou não sofreram engasgos quando Joaquim Barbosa tinha de passar por elas. Dou razão a ele quando pede o seu afastamento; não pela fraqueza, mas pela certeza de ter feito a sua parte. Se a bandalheira ocorrer, será na ausência de Joaquim Barbosa.
Conheço bem o que é ser nomeado pelo chefe de um governo e depois receber dele um cabresto de presente. A devolução do assessório de montaria, no meu caso, foi imediata e com as recomendações devidas. Erraram feio no envio do cabresto a Joaquim, ou seja, esse adorno ele nunca usou e jamais usará. Hoje, o presente de couro trançado é devolvido a quem o nomeou e a nação fala por ele: obrigado, ministro Joaquim Barbosa. Você é o grito dos injustiçados que estava preso em nossa garganta!