Estimado leitor, a 29ª Bienal de Artes de São Paulo, que nesta edição articula arte e política, apresenta um importante trabalho
Estimado leitor, a 29ª Bienal de Artes de São Paulo, que nesta edição articula arte e política, apresenta um importante trabalho do artista plástico carioca Cildo Meireles, intitulado Projeto Cédula, que consiste em carimbar sobre cédulas monetárias instruções e mensagens. Entre as mais conhecidas que veiculou ao longo dos anos, estava a pergunta Quem Matou Herzog?
O trabalho de Meireles é importante, pois permite-nos, hoje, relembrar a morte do jornalista Vladimir Herzog, uma das mais bárbaras atrocidades cometidas pelo regime militar brasileiro.
Vlado Herzog nasceu em 1937, na cidade de Osijsk, na Iugoslávia. Filho de Zigmund Herzog e Zora Herzog, imigrou com os pais para o Brasil, em 1942. Vlado foi criado em São Paulo e se naturalizou brasileiro. Fez Filosofia na USP e tornou-se jornalista do jornal O Estado de S. Paulo, em 1959. Nessa época, resolveu passar a assinar Vladimir.
No início da década de 60, casou-se com Clarice (homenageada na música O Bêbedo e a Equilibrista, composta por João Bosco e imortalizada na voz de Elis Regina). Com o golpe militar de 1964, o casal avaliou que seria melhor passar uma temporada na Inglaterra, onde Vladimir conseguiu trabalho na BBC de Londres. Em 1968, voltou ao Brasil e, depois de exercer várias atividades como jornalista, foi escolhido pelo Secretário de Cultura de SP, José Mindlin, para dirigir o jornalismo da TV Cultura.
Em 24 de outubro de 1975 (há 35 anos, portanto), agentes do II Exército convocaram Vladimir para prestar depoimento sobre as supostas ligações que ele mantinha com o Partido Comunista Brasileiro, que, nessa época, tinha todas as suas ações proibidas pela ditadura. Por negar qualquer envolvimento com o PCB, os agentes da repressão o espancaram até a morte e, depois, forjaram a cena do suicídio.
A versão oficial da morte foi refutada pelos movimentos sociais de resistência à ditadura militar. Uma semana após a morte do jornalista, cerca de oito mil brasileiros participaram de uma missa ecumênica organizada por D. Paulo Evaristo Arns, pelo reverendo James Wright e pelo rabino Henri Sobel.
Três anos depois, no dia 27 de outubro de 1978, o processo movido pela família do jornalista revelou a verdade sobre a morte de Herzog. A União foi responsabilizada pelas torturas e pela morte do jornalista. Foi o primeiro processo vitorioso movido por familiares de uma vítima do regime militar contra o Estado.
No dia 18 de outubro de 2004, o Correio Braziliense divulgou duas fotos que seriam de Herzog em sua cela no DOI-CODI. As imagens seriam inéditas e reforçariam a tese de que o jornalista havia sido torturado antes de ser morto. Na única imagem conhecida até então, Herzog aparecia enforcado.Clarice Herzog, viúva do jornalista, teria confirmado ao Correio que as fotos seriam mesmo do marido.
A obra de Cildo Meireles, exposta no 2º andar da 29ª Bienal de Artes é oportuna, pois chama a atenção das gerações mais novas para a importante figura de Vladimir Herzog e sua trágica morte. Lembrar é vital por várias razões; dentre elas, para que atos bárbaros não sejam novamente cometidos.
Bom domingo a todos.
(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM