ARTICULISTAS

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Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 26/06/2023 às 18:54
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Ler revistas e jornais antigos é uma experiência, às vezes, engraçada, às vezes, deprimente. Apreendemos fatos, tais como se apresentavam à época, sob luz totalmente nova. Assim, a atriz entusiasmada com o novo namorado não poderia saber o desastre que acolhia na sua intimidade. Não se podia prever o inusitado resultado do grande evento esportivo. E por aí afora.

Um efeito possível é pensarmos que somos mais sábios do que, na realidade, somos. É muito fácil falar depois da conclusão, apontar erros restropectivos. Mais fácil ainda pensar que não, nunca, de jeito nenhum, faríamos tal ou qual escolha. “Isso nunca aconteceria hoje, jamais!” Será?

O mundo parou para acompanhar os trabalhos de resgate de um submarino com cinco pessoas a bordo, que tentava chegar aos destroços do Titanic. Depois de dias, afinal se soube que o inadequado equipamento implodiu na descida e não havia sobreviventes. Pelo menos, a passagem foi rápida. Que todos estejam em paz.

Vários vídeos em circulação, prévios ao evento, mostram o capitão em pessoa falando abertamente nos riscos que estava disposto a assumir, muito além das fronteiras recomendadas por quem entende do assunto. Ele foi repetidamente alertado e aconselhado em contrário, mas persistiu no caminho que o levou ao seu próprio destino, bem como dos seus passageiros.

Difícil não fazer o paralelo com o que aconteceu com o navio que buscavam, o Titanic, cujo capitão também foi avisado muitas e muitas vezes que as condições do percurso em que estava não eram as melhores, para dizer o mínimo. Navios próximos enviavam telegramas com mensagens claras. Houve mesmo os que decidissem parar porque a embarcação estava rodeada de gelo e a possibilidade de uma colisão era muito alta. Mas o capitão só ordenou uma correção de rota tardia, e não reduziu a velocidade. Combinação fatal.

Um século mais tarde, outro capitão percorre o mesmo caminho de decisões equivocadas e tem resultado similar. E outras cinco fatalidades se somam às 1.517 daquele 15 de abril de 1912, uma tragédia que já não era pequena.

Somos muito bons a olhar um resultado esperado e, por ilusão, vontade, negação, orgulho ou sabe-se mais que emoções, esquecer ou relevar os riscos envolvidos. Riscos fazem parte da vida. Sabedoria e humildade para saber até onde avançar em cada situação é exercício diário.

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