A excelente docussérie Shock and Awe, the Story of Electricity (“Choque e Admiração, A História da Eletricidade” – BBC, 2011) conta a história da busca humana pelo domínio dessa força da natureza desde os primórdios, quando parecia quase bruxaria, até os dias atuais.
Entre as muitas reviravoltas, o segundo episódio (são apenas três) mostra com detalhes a rivalidade entre Thomas Edison e a dupla George Westinghouse/Nikola Tesla, que passou à história como a “Guerra das Correntes”.
Edison defendia a corrente contínua para a distribuição de energia, enquanto Westinghouse vinha com a corrente alternada, desenvolvida por Tesla e capaz de vencer distâncias muito maiores.
Num certo ponto, o time Edison deflagrou guerra total no campo da informação. Começou uma campanha pesada, em que animais, literalmente, morreram, e até uma execução por eletrocussão foi jogada na conta do campo adversário.
O contra-ataque foi certeiro e inesquecível. Numa demonstração prática e memorável, Tesla mostrou que seu sistema era seguro, desde que se soubesse como usá-lo. A corrente alternada vingou e até hoje permite que citadinos possam usufruir dos benefícios de energia gerada a muitos quilômetros de distância.
Nem se pensa mais nisso hoje, mas, antes de tudo isso acontecer, ninguém tinha muito claro como seria possível transformar aquela estranha tecnologia em algo que facilitasse a vida. Eletricidade era muito bonitinha e interessante, mas faria pouca diferença apenas como curiosidade em festas e saraus chiques. No máximo, seria útil em condições muito particulares, no meio acadêmico, ou para quem tivesse dinheiro e recursos impensáveis para o povo em geral.
Menos mal que ninguém pensou em censurar Edison nem Westinghouse nem ninguém. Cada lado colocou seus argumentos. E os exageros cometidos, que foram muitos, acabaram vencidos com mais informação.
De se imaginar o que aconteceria se alguém tivesse tido a brilhante ideia de pedir ao governo, ou a alguma agência “checadora de fatos”, que determinasse qual era a verdade, naquela situação.
Dependendo do momento, poderiam ter decidido que, imagina, esse negócio de corrente alternada é anticientífico e totalmente fake news; então, vamos parar com isso. E estaríamos vivendo em semitrevas. Ainda bem que ninguém quer fazer nada disso hoje.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com