Num país estrangeiro, aeroporto, porta de embarque, indo para o Brasil. Que alegria! É uma viagem profissional, mas é sempre bom ver a Pátria. Num certo momento, ao mostrar o cartão de embarque, vem a ordem: a partir daqui é obrigatório usar a máscara.
Por quê? Vai prevenir, de fato, a enfermidade, proteger o cidadão? Algo mudou nas condições gerais neste ponto do universo? Algo que nos faça diferentes de todas as outras pessoas neste movimentado aeroporto? Não, nada. Ocorre que baixaram uma lei no país de destino e tem que ser assim.
A primeira coisa que vem à cabeça é uma passagem específica de um livro publicado há pouco (The Scape Artist, The Man Who Broke Out of Auschwitz to Warn the World, Jonathan Freedland – O Artista da Fuga: O Homem que Escapou de Auschwitz para Alertar o Mundo – em tradução livre). Esse livro conta a história de Rudolf Vrba, que, junto com Alfréd Wetzler, conseguiu escapar de Auschwitz, em abril de 1944. A passagem em questão descreve uma constatação dolorosa de Rudolf sobre o modus operandi dos seus carrascos. Constatação essa que o levou a tentar a empreitada, graças a Deus, exitosa.
Descreve Rudolf que os administradores do local tinham este moto: “É mais fácil matar ovelhas do que porcos.”
Colocado numa tarefa que lhe possibilitava ver parte dos procedimentos administrativos do local, Rudolf observou que as pessoas que chegavam eram sempre asseguradas de que estavam indo por um bom caminho.
“Tragam seus pertences, vocês vão começar uma nova vida, está tudo bem, vai dar tudo certo, não se preocupem. Coloquem seus pertences aqui, ficarão bem guardados enquanto vocês tomam uma ducha.” Claro que era tudo mentira, só para que as pessoas entrassem no trem e, por fim, na câmara de gás, pacificamente, sem dar muito trabalho.
É de se imaginar o seu conflito interior, uma vez que, obviamente, não estavam no trem por iniciativa própria. Seguramente, não lhes ocorreria “começar uma vida nova” sabe-se lá onde, sem quê, nem por quê. Mas iam.
Talvez acostumar ovelhinhas a seguir ordens, sem questionar, seja o passo um, ou dez, em direção a um objetivo satânico. Nesta viagem chamada vida, em que muitos querem apenas viver em paz, enquanto uns poucos querem controlar todos, toda atenção a coisas esquisitas é pouca.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com