ANA MARIA LEAL SALVADOR

Cachorro-Quente

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 30/01/2023 às 17:48
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A vida em cidades pequenas é uma delícia. Pouco trânsito, logística fácil, relações que se constroem pelos encontros, planejados ou não, a cada dia. Morando em Indaiatuba, é fácil sair de casa e ir à pé até o centro, comer um cachorro-quente na praça.

Em noites de preguiça, ou vontade de ver a lua, ou calor, ou só “porque sim”, as pessoas vão e aproveitam para dar um dedo de prosa, ver o movimento, desanuviar um pouco.

Mas era o início dos anos 90. Naturalmente, o povo desenvolveu um hábito engraçado. Depois do jornal de maior audiência, na maior rede de TV, sempre esperava um pouco, para ver se aparecia alguma notícia extra, que todo mundo já sabia qual era: aumentou o preço dos combustíveis.

Pois nessa noite, depois de ver mais uma notícia-de-última-hora-a-gasolina-subiu, seguiu-se o passeio à praça. Surpresa desagradável. No mesmo carrinho de sempre, o preço do sanduíche tinha subido, e muito.

O vendedor, imediatamente, defendeu-se com o argumento corrente: “mas você viu para quanto foi a gasolina?”. Sim! Mas isso foi há, quanto..., 5 minutos? Não houve tempo para refletir nos custos de produção.

Não importa. Isso é o que acontece quando se perde o controle. Ninguém quer perder dinheiro e todos tentam se adiantar às perdas.

O caso é que esse efeito é consequência da inflação, mas não é, nunca foi, a causa. Culpar o povo, que apenas tenta se defender, pelo valor minguante da moeda é como culpar lenços de papel pela gripe.

Se não fossem esses lencinhos aí dando sopa, com certeza esse mal-estar geral cessaria. Superlógico, não é? Mas foi isso que se ouviu esta semana, e proferido por um chefe de governo!

Toda a solidariedade a nossos hermanos ali ao sul, que sofrem com a situação econômica cada vez mais complicada. Infelizmente, pelo comentário do líder da vez, não há muita perspectiva de solução.

Fica a dúvida sobre que ação se vai tomar. Hipnose coletiva? Psicodramas em cada esquina? Terapia em massa? Ou uma nova modalidade de grupo de apoio, os remarcadores anônimos?

“Olá, meu nome é ..., eu aumento preços.” E, depois da reunião, vamos comer cachorro-quente.

 Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica

AnaMariaLSVilanova@gmail.com

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