ARTICULISTAS

Cidadãos no controle

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 11/11/2024 às 18:50
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Ali pelo fim dos anos 2000, certo dia, um colega de trabalho contava suas aventuras num emprego anterior. Funcionário do departamento financeiro, ele já tinha circulado em vários ramos de negócio diferentes, inclusive no mundo da mídia, objeto da história em questão.

Foi numa empresa grande, veículo de comunicação importante que todo brasileiro conhece e consome, queira ou não. Ele se deslocou ao departamento de vendas para uma conversa com o responsável por lá. Enquanto a conversa progredia, esse colega se incomodou com a quantidade de vezes que o telefone tocou (era o tempo da prevalência das linhas fixas), e o chefe de vendas, simplesmente, desligou o telefone. Na prática, esse chefe levantava e baixava o gancho, objetivamente batendo o telefone na cara de quem chamava.

Depois de ver o rude gesto várias vezes, meu colega não aguentou e disse que não se incomodava de o chefe interromper a conversa para que o telefone pudesse ser adequadamente atendido. Ao que o interlocutor respondeu que não havia a menor necessidade, e o cidadão do outro lado, certamente, iria ligar outra vez. E concluiu: “Ele não tem opção. Para quem mais ele vai ligar? Quem pode oferecer a ele o que nós temos aqui? Não há ninguém. Fique tranquilo; ele vai ligar de novo.”

Essa mentalidade talvez ajude a explicar o duro despertar que muitos grandes conglomerados de mídia relutam encarar. Nos últimos anos, vem se demonstrando, cada vez mais, sua crescente irrelevância, além da progressiva deterioração da sua capacidade de influenciar o povo. Se antes eles matavam uma história apenas pela decisão de não falar sobre ela, agora têm que conviver com qualquer pessoa com iniciativa, credibilidade, e que consiga engajamento no mundo digital.

Se antes conseguiam enquadrar cada história como desejavam, colando nos seus personagens o rótulo que queriam, agora olham impotentes a pluralidade de visões partilhadas, a favor, contra ou neutras, que bagunçam todo o roteiro e tiram das suas mãos o controle da opinião pública.

Hoje “ele” não tem mais que se sujeitar a um ritual de humilhação para conseguir fazer negócios e divulgar seu produto. Há um mundo lá fora, muito mais democrático e livre. A cada ciclo, isso fica mais evidente, e só quem tem a ganhar é o cidadão.

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