ANA MARIA LEAL SALVADOR

De César a Jones

Ana Maria Leal Salvador
Publicado em 13/02/2023 às 18:03
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Há uma teoria que diz que coincidências são o universo piscando para você. Algumas piscadelas são mais elaboradas que outras, como ver dois filmes excelentes no mesmo dia e constatar a história que contam, além dos próprios enredos.

Primeiro, o perturbador “A Sombra de Stalin” (Mr. Jones - 2019), baseado em fatos, sobre o jornalista galês Gareth Jones que, no início dos anos 1930 conseguiu entrar na Ucrânia e constatar o flagelo da fome que o País sofria, consequência do “brilhante” planejamento central de Joseph Stalin, agravado pelo inverno rigoroso.

Voltando à sua terra, Jones escreveu um artigo devastador contando o que vira, apenas para ser desmentido, desmoralizado e cancelado por outros veículos de comunicação. Alguns, por desconhecimento, outros, por apoiarem a revolução em curso e considerarem que alguns milhões morrendo de fome eram apenas um caso de “é preciso quebrar ovos para fazer omelete”.

O segundo filme é o inesperadamente divertido “Ave, César” (Hail, Cesar - 2016), dos irmãos Cohen. Acompanhamos pouco mais de um dia, apenas isso, da vida do produtor Eddie Mannix, que lida com uma série de problemas, um mais esdrúxulo que o outro. O pior de todos é um sequestro.

Um ator, estrela do estúdio, é levado por um grupo de roteiristas comunistas. Eles querem dinheiro para a causa deles, e aproveitam para converter o sequestrado, um completo cabeça-oca, que escuta aquele menu de slogans e sai repetindo tudo como se tivesse desvendado o segredo da vida.

De volta ao trabalho, tenta, mesmo, partilhar o que tinha aprendido no cativeiro, só para tomar um enormíssimo “prestenção” do produtor, parar com aquela bobagem e voltar ao ofício.

Interessante que, enquanto o sequestrado estava no cativeiro, os escritores explicam a ele como vinham introduzindo a fracassada ideologia em tudo o que escreviam, mas de forma bem sutil. Um momento aqui, outro lá, e, devagar, conceitos estapafúrdios se imiscuíam no imaginário da audiência.

Essa longa preparação foi fundamental para que o público aceitasse, desculpasse, ou fingisse que não via os absurdos que vinham do lado de lá do bloco. Para uns, o escurinho do cinema. Para outros, fome e frio.

 Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica

AnaMariaLSVilanova@gmail.com

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