No interior de São Paulo, há uma vibrante comunidade nipo-descendente que preserva muitos costumes próprios, um deles, a prática do beisebol. Foi numa ocasião de um jogo muito importante que um jovem acordou pela manhã, animadíssimo. Levantou-se sem demora e já foi buscar seu aparato esportivo para o grande evento.
Confiante, arregimentou o pai para levá-lo, já que este, muito presente, sempre o levava e não deveria ser diferente aquela vez. Um pouco surpreso ficou o rapaz com a reação do pai algo amena e até um pouco estranha; quase parecia ter se esquecido que dia era aquele! Insistiu, muito sério, até que o pai concordou e passou rapidamente à ação.
Mas, ainda um contratempo. Já no carro, o pai disse que tinha que passar num lugar antes, não havia como escapar. Garantiu que ia ser rápido, vamos lá. Sem alternativa, o filho o acompanhou.
Chegaram a um consultório médico. O pai deu entrada e acomodaram-se na sala de espera. Não demorou muito e foi chamado, porém pediu que o filho o acompanhasse durante a consulta, que não ficasse ali fora sozinho.
Sentando em frente ao médico, dá o serviço todo: “doutor, ontem este meu filho levou uma bolada na cabeça, num jogo de beisebol, e perdeu os sentidos por alguns minutos. Ele voltou a si logo e parecia bem pelo resto do dia, porém hoje acordou e não se lembra de nada. Ele está convencido de que hoje é o dia do jogo”. Choque total.
O jovem passou o dia ali em exames e observação. O médico era um neurologista. No final, ficou tudo bem e quem conta a história, do seu ponto de vista, é o próprio jogador, muitos anos depois.
Grande lição aprendemos com esse pai. Frente a uma situação com potencial gravíssimo, teve sensibilidade para a compreender, controle para não se deixar dominar pelos próprios receios e, incrível, agiu com precisão total, para resolver tudo da forma mais eficiente e com o menor sofrimento possível.
Qualquer discussão prévia com o filho seria inútil, levaria à perda de tempo precioso e elevação desnecessária dos ânimos. Quando o rapaz se inteirou do problema, já estava no caminho da resolução, nem deu tempo de se desesperar.
Em caso de emergência, que Deus assim nos ilumine. Amém.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com