Sarcástico. Assim era o personagem Chandler Bing, um dos seis personagens principais da série “Friends”, sucesso absoluto de 1994 a 2004. Além disso, prestativo, carente, trabalhador e bom amigo.
Numa era em que, para fazer sucesso, é necessário “viralizar” em alguma rede social, e carreiras são criadas e enterradas em poucas horas, é difícil explicar - ou até lembrar - o que era necessário para chegar ao topo em meados dos anos 90. Mais difícil era permanecer lá, ainda mais por tanto tempo.
Eram seis amigos, representados por seis ótimos atores, com tempo de comédia impecável. Eles mesmos eram unânimes em reconhecer que, de todos, aquele que mais se identificava com o próprio personagem era Matthew Perry.
O inesquecível Chandler era complicado. Desde pequeno aprendeu a usar o humor como defesa, para não enfrentar suas dores. E quem não quer ficar perto de alguém tão engraçado? Assim foi se construindo uma armadura.
Matthew Perry faleceu em sua casa. Até o momento, a causa da morte não foi divulgada; sabe-se apenas que não houve crime. Afogamento? Infarto? Não se sabe a causa imediata.
Ainda jovem, vivendo em Los Angeles, ele via celebridades com regularidade; há muitas por ali. Fez uma oração, pedindo a Deus que lhe desse fama, acreditando que, assim, todos os seus problemas se resolveriam: “Deus, faça comigo o que quiser, mas me dê a fama.”
Naquele momento, Perry já enfrentava a provação do vício, sobre a qual foi brutalmente honesto em muitas entrevistas e, também, nas suas memórias. Primeiro foi o álcool; depois, as drogas.
Desejo cumprido, junto veio o preço a pagar. A dependência piorou, teve períodos melhores e piores, mas sempre esteve lá. Dez anos depois, nova oração. Então, apenas um “Deus, ajude-me, mostre-me que Você está aqui.” A constatação de que o vazio que sentia era espiritual.
Essa experiência é descrita no seu livro de memórias e, dessa vez, levou a um período alargado de abstinência, infelizmente interrompido anos mais tarde. Diz que nunca mais bebeu, mas teve recaídas nos opioides.
Perry se foi, mas, pelo caminho, ajudou muitos outros dependentes, a ponto de dizer que, quando morresse, gostaria de ser lembrado por isso, mais do que pela carreira profissional. Vá em paz, Matthew, e obrigada por tudo!
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com