ARTICULISTAS

Faturas e Bichos de Estimação

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 16/09/2024 às 19:28
Compartilhar

Qual é a diferença entre uma fatura e uma duplicata? Quem se lembra de 1989 deve ter sentido uma onda de memórias baixando sobre si. Foi com essa pergunta que, naquele ano, Collor “enterrou” Lula no debate para o cargo mais alto do país.

A resposta foi evasiva, o que deixou a impressão de que Lula, de fato, não sabia a diferença. Porém, se tivesse respondido, estaria sendo pautado pelo adversário. A pergunta, em si, foi humilhante e cumpriu seu papel. Tantos anos mais tarde, é a única lembrança que ficou do embate.

A prova da sua relevância veio nos dias a seguir, em que pipocaram anedotas pelo país todo. A mais engraçada dizia que, se tivesse respondido, o desafiado diria: “Fatura é quando você quebra um braço. Duplicata é quando quebra os dois”. Tudo isso, somado à reprise do evento, com edição seletiva gentilmente repetida pela emissora, determinou a candidatura morta e enterrada.

Mudaram os meios, não mudou muito a natureza humana. Aconteceu o primeiro e, talvez, único debate entre os candidatos Harris e Trump, nos Estados Unidos. Contando com moderadores amigáveis, perguntas chapa branca e hostilidade contra o adversário, Harris se saiu muito melhor do que o esperado.

Conhecida por sua risada extravagante e inadequada, respostas confusas e maneirismos erráticos, Harris se preparou bem, levou vantagem, e a turma encarregada de fabricar consenso a declarou vencedora imediatamente. Será?

Dentre os muitos assuntos que foram mal discutidos durante o evento, com seu formato engessado e apresentadores enviesados, esteve a imigração ilegal. Trump falou particularmente sobre o caso de uma cidadezinha perdida no meio do país e buscou pintar um retrato vívido do problema, explicando: “eles (os ilegais) estão comendo os cães, estão comendo os gatos, estão comendo os bichos de estimação das pessoas que vivem lá”. Jovens influenciadores musicaram esse pequeno trecho, adicionaram um ritmo simples e saíram dançando internet afora, em vídeos curtos e engraçados.

Agora ninguém lembra de números, argumentos, caras e bocas. Estão todos curtindo a onda viral, cantando e dançando para salvar os bichinhos. O esperado pico de aprovação à candidata da situação não veio. Falta a senhora explicar a que veio, já que, além de não apresentar política alguma, falta-lhe carisma para se converter em fenômeno pop. E só se fala dos gatos.

Assuntos Relacionados
Compartilhar

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por