O navegador Amir Klink, além de sair pelo mundo em expedições quase impossíveis, também faz palestras contando suas aventuras. São bastante populares e muitas empresas o contratam porque entendem valiosas as duras lições aprendidas em condições tão desafiadoras.
Ele conta, por exemplo, que, quando organizava sua expedição ao polo antártico, ouviu muitas vezes que não teria êxito por causa da solidão prolongada. O plano era navegar até lá e deixar-se ficar no mar congelado por sete meses, completando um ano de viagem no total.
Quase unanimemente, diziam-lhe que ele tentaria contra a própria vida ao se ver tão só, por tanto tempo. Se tudo corresse bem, ele ultrapassaria em muito os “cem dias entre o céu e o mar”, já vencidos na viagem entre o continente africano e o Brasil, anos antes. Mesmo com todas as advertências, ele foi.
Já “instalado” no seu local-alvo, a expedição transcorria como planejado. Klink era mesmo competente e sua experiência em viagens anteriores ajudou muito. Mas, um dia, cometeu um erro.
Tendo falhado em cumprir uma tarefa rotineira, uma fina tubulação que adentrava o mar congelou em toda a sua extensão. A única forma de resolver o problema era vestir sua roupa de mergulho, mergulhar no mar enregelante e quebrar o gelo, centímetro a centímetro, com um pequeno martelo. Ele passou horas dentro d’água até completar a tarefa.
Porém, o mais inesperado foi a aprendizagem advinda dessa pequena anedota. Olhando de fora, a grande lição seria sobre um procedimento técnico de manutenção em ambientes abaixo de zero grau Celsius. Mas, não, não foi essa.
A grande lição que ele trouxe foi a enorme, vultosa, insuportável constatação de que não era possível culpar ninguém, além dele mesmo, pela situação.
Cada minuto de sofrimento na água em temperatura hostil e a pensar. “Fui eu, eu errei, ninguém mais, só eu. Eu sabia, deveria ter feito isso e aquilo, errei sozinho, eu e mais ninguém.”
Em dias de grandes tarefas, enormes responsabilidades e consequências graves para o fazer, ou não fazer, vale a lembrança.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com