Quando ele nasceu, a capital do Brasil era o Rio de Janeiro, a “Grande Guerra” tinha acabado (não era a Primeira Guerra Mundial, porque não tinha acontecido a Segunda) e as missas eram todas rezadas em latim.
Isso tudo vale para o ator francês Alain Delon, assim como para o apresentador, animador, empreendedor incansável e genial Senor Abravanel, o Sílvio Santos – o homem que criou o conceito de maratona dominical televisiva no Brasil, o que, naquele momento, parecia uma loucura.
Sílvio já era conhecido quando se tornou dono de uma rede de televisão cujo produto central era ele próprio. Houve uma época em que o “Programa Roda Gigante”, apresentado pelo Tio Mário, em Uberaba, terminava e dava lugar ao “Domingo no Parque”, primeira atração no longo alinhamento do dia.
Depois vinham quadros variados, sempre à frente do “auditório mais feminino do Brasil”. Havia conteúdos quase educativos, como o “Qual é a Música?”. Os competidores tinham mesmo que conhecer o repertório nacional ou estavam fora. Histórica foi a sequência de vitórias do cantor Sílvio Britto; o homem era uma enciclopédia musical.
Com o sucesso da rede de televisão, vieram mais empreendimentos. Sílvio Santos maximizou o conceito de sinergia, em que o resultado é maior do que a soma das partes. Marketeiros modernos acham que descobriram essa ideia, mas já estava em força total lá atrás.
Quando se divulgou que Sílvio ia lançar uma rede de TV toda sua, a recepção geral foi mais de ceticismo do que entusiasmo. A rede concorrente parecia invencível e ditava o padrão de qualidade do meio. Mas ele foi em frente e mudou a história do audiovisual no Brasil.
Ao longo dos anos, foram muitas polêmicas, modas lançadas, recordes estabelecidos (quantos Troféus Imprensa ele recebeu?) e inovações mil. Havia um espírito “a rede é minha, eu faço o que eu quiser” que a tornava única.
Foi-se Sílvio Santos aqui no Brasil, foi-se, também, Alain Delon, lá na França. Tiveram vidas longas e deixaram suas marcas; viveram o bastante para ver seus legados.
Sílvio deixa um último testemunho ao manifestar o desejo de um funeral discreto. Também quer ser lembrado com alegria, sentimento difícil neste momento, mas, com o tempo, chegamos lá. Afinal, “do mundo não se leva nada, vamos sorrir e cantar”.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com