Quando algo viraliza na internet, principalmente de forma orgânica, inesperada, espontânea, é porque já estava por aí, apenas esperando um gatilho para dar um alô.
Assim, uma mulher perguntou ao seu companheiro com que frequência ele pensava no império romano. A resposta a surpreendeu a ponto de publicar a resposta no seu perfil, o que intrigou muitas outras. Daí a nada, muitas mulheres pelo mundo fizeram a mesma pergunta aos respectivos e a surpresa foi geral.
A quantidade de respostas publicadas cresceu dia após dia, sendo o consenso feminino que esse particular aspecto do rol de preocupações masculinas não faz muito sentido.
A perplexidade vem da incompreensão. O Império Romano declinou e morreu, e já faz muito tempo. Depois dele, vários outros vieram e morreram, a maioria de interesse de especialistas e pouco mais. Por que os homens ainda pensam tanto no Império Romano?
Sim, a frequência mencionada pelos senhores é invulgarmente alta. Pelo menos uma vez por semana, às vezes uma vez por mês ou algo ali pelo meio. Mas por quê?
Algumas mulheres fizeram perguntas de esclarecimento, mas, infelizmente, com menos profundidade do que seria desejável para entender o fenômeno. O Império Romano ainda é relevante, tem lições úteis para a vida hoje, segue presente. Tudo verdade, porém o mesmo poderia ser dito sobre outras eras. Restam hipóteses.
Ler escritos relevantes dos antigos romanos é menos uma viagem no tempo do que uma desanimadora constatação. Alguns deles parecem se referir a situações atuais, a eventos infames da semana passada, e bem aqui.
Admoestações as mais variadas e conselhos prudentes continuam a valer e, por razões que ninguém gosta de encarar, seguem sendo solenemente ignorados. Depois de tanto tempo, seria de esperar que ao menos cometêssemos erros novos, equívocos mais criativos, falhas inesperadas. Só que não. Vamos lá, de novo, cair no mesmo buraco.
Bem, se há lição a tirar disso tudo, é que os déspotas de outrora caíram; os de hoje também cairão.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com