ARTICULISTA

O José e a Vitória

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
AnaMariaLSVilanova@gmail.com
Publicado em 11/09/2023 às 18:54
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O José era muito gente boa. Os pais eram agricultores; ele foi pelo mesmo caminho. Era muito engenhoso, estudava o assunto. Além de plantar e promover o cultivo de árvores e afins, também trabalhava com bichos-da-seda e apicultura.

Mas seus interesses não paravam por aí. A primeira casa da cidade com iluminação elétrica foi a dele, porque o José, vejam que motivado era, construiu uma turbina eólica caseira! Além disso, era apaixonado por fotografia, e muitos registros da sua família e cidade chegaram até nós.

Já a Vitória vinha de uma família grande e era muito ativa na comunidade, chegando a participar do grupo de teatro local. Ambos católicos praticantes, José e Vitória se casaram.

Logo vieram os filhos e, em não muito tempo, já eram seis: três rapazes e três lindas garotinhas, mais um a caminho. Graças ao hobby fotográfico do pai da família, é possível ver todos em atividades bucólicas, em pequenos e grandes eventos, uma vida rica e cheia de significado.

José estava em constante contato com outros agricultores e negociantes, escoando sua produção e desenvolvendo projetos. Entre esses, vários judeus, amigos de uma vida.

José e Vitória são, na verdade, Józef e Wiktoria Ulma, poloneses da cidade de Warkowa, na primeira metade do século vinte. De repente, viram-se num país ocupado e, não sendo o alvo principal da fúria invasora, não viraram as costas aos amigos em perigo. Mesmo sabendo dos riscos que corriam, acolheram vizinhos que se escondiam dos oficiais nazistas da zona.

Temores justificados. Alguém os denunciou e, um dia, apareceram por lá. Primeiro atiraram em todos os prisioneiros e, depois de breve conversa entre os captores, mataram a família toda. Os filhos do casal Ulma tinham entre um e oito anos de idade.

Em dez de setembro passado, num movimento inédito, a família inteira foi beatificada ao mesmo tempo, inclusive as crianças e o bebê não nascido. Eles já eram mártires da fé, agora estão no caminho da santidade.

Assim como os agora beatos, os perpetradores, tão poderosos naquele momento, já se foram deste mundo; encontraram seu destino. A hora chega para todos. Fica a mensagem inscrita no sino da igreja local, que Jozéf e Wiktoria, seguramente, ouviram muitas vezes: “enquanto temos tempo, façamos o bem”.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com

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