ARTICULISTAS

O Silêncio e a Glória

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 09/09/2025 às 17:52
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Há uns anos, um amigo viajava de Madrid a Barcelona, num voo noturno. Chegando ao destino, uma tempestade invulgarmente forte apanhou o avião quase a aterrissar, impedindo o procedimento e obrigando a aeronave a se manter no ar, voando em círculos por quarenta minutos, aguardando condições para o pouso.

Com tanta chuva e vento, ela chacoalhava com força e já fazia até os mais bravos passageiros temerem pela própria vida, ainda que qualquer viajante mais experiente saiba que condições como essas acontecem, e turbulência, apenas, não derruba avião.

Em algum ponto do martírio, o vento levantou a cauda do aparelho que, com o movimento, esteve uns estimados dez a doze segundos voando inclinadíssimo em direção ao solo. A percepção era de que estava caindo. Em tempo, a situação foi controlada e a nave se estabilizou. O voo ainda durou mais uns quantos intermináveis minutos até que o pouso foi autorizado e todos desembarcaram em segurança, ainda que um bocado assustados.

O que mais impressionou na história inteira foi a reação de todos os passageiros naqueles dez segundos. Silêncio total. Passageiros de idades, formação, personalidade e resiliência diferentes, sem exceção, com a mesma resposta. Ninguém gritou nem falou nem um “ai”. Só depois da estabilização vieram as reações, que foram todas e mais algumas: choro, gritos, alívio e mais.

Esse silêncio de incredulidade, estupefação e horror também foi relatado por várias testemunhas do recente acidente com o elevador, na verdade um funicular, na Calçada da Glória, em Lisboa. O cabo que ligava os dois veículos, o que subia e o que descia, partiu-se e os dois ficaram à mercê da gravidade. Os freios atuaram, mas não foram suficientes para tanto peso e inclinação.

A “cabina” que saía do alto do morro vinha cheia de gente, turistas e pessoas do local, e embalou na descida, parando apenas numa curva, 170 metros depois, a estimados 60km/h, descarrilando e embatendo contra prédios vizinhos. Entre o metal retorcido, muitas vítimas fatais e feridos politraumatizados. E o silêncio.

Aquela região de Lisboa é altamente turística. Há um burburinho, um movimento, uma energia própria, parte da paisagem local, tanto quanto a calçada portuguesa. Tudo cessou nos momentos seguintes à tragédia. Calam-se os humanos diante do terror; resta a esperança da glória.

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