Eventos importantes são, naturalmente, muito comentados, aumentando a presença no nosso imaginário. É assim com acidentes, principalmente aqueles mais chocantes, como os fatais. Se são muitas fatalidades, então, a atenção é inevitável e, dentre todos, os acidentes de aviação são os mais lembrados.
Nesse caso, também entra em cena o medo visceral, muito humano, de cair de grandes alturas. Se há abundância de imagens disponíveis, ocorre uma retroalimentação emocional viciosa. Quanto mais imagens se veem, maior o choque, mais se quer ver.
Essa predominância mental leva a um efeito psicológico conhecido como “viés de disponibilidade” em que, pelo fato de um evento ser muito lembrado, parece ser frequente, mesmo que seja raríssimo. É o caso de quedas de aviões.
Na verdade, um acidente como o ocorrido agora em Vinhedo é muito pouco provável, embora possível, como dolorosamente agora se vê. Medidas de segurança na aviação são rigorosíssimas e há mil verificações para tudo.
Para que algo dê errado a sério, não apenas muitas barreiras têm que falhar, mas elas têm que falhar de modo a conseguir anular a proteção que pretendiam.
É como se essas barreiras fossem fatias de queijo suíço, com seus característicos furos. São barreiras, mas têm falhas, embora ainda ofereçam bastante proteção. Se algo passar pela primeira fatia, ainda assim vai encontrar outra à frente e só vai seguir avançando se encontrar muitos furos alinhados de maneira muito específica.
Aconteceu, não há como escapar. Elocubrações prematuras só servem para alimentar a natureza humana, sempre à procura de razões. Mas só vai se saber, mesmo, depois de investigação minuciosa. Com certeza, pode-se afirmar que não haverá uma causa única.
Ficam os relatos de vários passageiros que perderam o voo por motivos vários, como engano na hora do embarque, atraso ou, ainda, a pedido do pai. Nessa hora se agradece a Deus pelo livramento.
E os que embarcaram e perderam a vida? Também ali estava Deus. Não sabemos por que alguns se foram; outros, não. No fim, iremos todos, sem exceção, também aí há outra certeza. Por agora, os que ficamos, honramos os que partiram, rezamos e pedimos por eles, como um dia farão por nós.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
MariaLSVilanova@gmail.com