A Kuka se foi. Ou pode ter sido Cuca, ou Kuca; nunca ficou bem definido. O fato é que já não está conosco; idade e problemas de saúde a levaram. Teve todo o cuidado e carinho do mundo até o final, mas não aguentou.
Kuka era a gatinha preta do meu pai. Companheira da Bibi, a gata amarela, compunha a dupla “a loira e a morena” com extensa ficha de serviços prestados.
Companhia, cuidado, captura de insetos em geral, atenção com a casa, conforto único, que só o ronronar dos gatos é capaz de fornecer, Kuka era mestra em tudo; desempenhou suas funções enquanto pôde.
Quando chegou, era mais tímida e não miava, antes “piava”, tal era a delicadeza de sua expressão verbal. Vinha sofrida, tinha perdido os filhotes em uma história triste. Porém, imediatamente, passou às tarefas na nova casa e se dedicou ao tutor com adoração. Onde ele estava, lá vinha ela.
Ganhou peso, era muito bem tratada, e não era dada a demasiadas aventuras. Algumas, sim, que era uma gata. Entretanto, era sossegada, mais chegada a passar o tempo dentro de casa.
Como todo gato, passou algum tempo treinando seu tutor e os humanos ao redor. Como e quando abrir portas para ela, como preferia a comida e a água, de que brincadeiras gostava, quando era hora de descansar sem perturbações. Deu algum trabalho, contudo acreditamos que ela nos deu um certificado de proficiência ailurófila. Gatinha gente boa demais ela era.
Bibi e Kuka eram as típicas irmãs. Às vezes, implicavam uma com a outra; às vezes, estavam pacificamente juntas. Mas Bibi sempre foi mais passeadeira; Kuka não a acompanhava.
Nos últimos tempos, aproximaram-se mais, dividindo tarefas felinas, além dos espaços da casa e escala das sonecas do dia. Houve preocupação em dar a oportunidade da despedida à companheira de uma vida toda.
Bibi teve seu momento. Viu a colega caída, já sem vida. Contemplou-a, postou-se ao seu lado, fez sua guarda por longo tempo, depois miou muito.
E seguimos sem a Kuka. Ficam as lembranças e gratidão por nos ter agraciado com sua presença, com tanta paciência, por tantos anos.
Obrigada por tudo, querida Kuka.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com