Oliver e os Homens do Norte
Oliver Anthony é o nome artístico de um trabalhador americano que vive no interior dos Estados Unidos e compõe músicas no estilo country, as quais canta em eventos locais.
Pois, numa dessas ocasiões, uma música sua foi gravada em vídeo e disponibilizada, despretensiosamente, no YouTube. Até o momento em que estas linhas são escritas, já contava com mais de 47 milhões de visualizações em apenas duas semanas.
E o que teria tão forte apelo? É um cantor excepcional? Tem uma superprodução? Efeitos mil? É lindo de morrer? Pelo menos algumas imagens com drones mostrando multidões e paisagens maravilhosas?
Nada disso. Só se vê mesmo o compositor/cantor, com sua guitarra e um microfone. Ao fundo, o verde de árvores e algo que parece uma escada num poste (nada a ver com a canção; só evidencia o improviso todo). O rapaz é jovem, cabelo curto e barba farta, camiseta simples.
Poucos cortes no vídeo, durante a performance, mostram os arredores, e a descrição não melhora. Ele não está num palco, mas num gramado, cercado por três cães muito pouco impressionados, dormindo tranquilamente.
O apelo é, apenas, o conteúdo da canção, que encontrou eco no coração de milhões de pessoas. Já pipocam youtubers comentando o famoso “react”, em que, como todo mundo está falando sobre isso, o produtor de conteúdo fica meio obrigado a se manifestar sobre. O fato é que isso só faz crescer a fama do Anthony.
A música fala sobre as dificuldades da vida de trabalhadores, porém sem o compositor ser ativista. Não se filia a partidos, nem ideias de A ou B; apenas canta as agruras de uma pessoa a cada dia mais oprimida pelos “Rich Men North of Richmond” (Homens Ricos a Norte de Richmond), o nome da canção, uma referência aos que, no momento, têm o poder nas mãos.
Como diz o refrão: “Vivendo no novo mundo/Com uma alma antiga/Esses homens ricos ao norte de Richmond/Deus sabe que todos eles só querem ter controle total/Querem saber o que você pensa, querem saber o que você faz/E eles acham que você não sabe, mas eu sei que sim”.
De fato, sabemos, Oliver, e que venham mais músicas.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com