A jovem tinha um sonho recorrente em que estava em um matadouro, apavorada. Relatando ao seu psicólogo, ficou claro seu medo paralisante da morte.
O remédio? Encarar, mas de forma controlada. Poderia ser numa visita a um matadouro, mas ela decidiu ir à fonte dos receios totais, uma funerária. Esteve ali, acompanhada do terapeuta, e, se a princípio não conseguia nem abrir os olhos, ao final já fazia perguntas, aproximou-se, venceu.
O psicólogo Jordan Peterson relata essa história, entre as muitas que tem de seus extensos anos atendendo pacientes. Usa-a para exemplificar onde está o ser humano potencial, aquele que cada qual de nós tem dentro de si, latente.
A verdade é que ele está lá e a grande pergunta é “como alcançá-lo”? Como deixar esse ser oculto vir para fora, realizar-se, acontecer? Pondo-se desconfortável.
Quantas vezes vemos alguém numa situação impossível, fazendo coisas impensáveis? Em acidentes graves, doenças debilitantes, eventos extremos? Sem opção, as pessoas agem e descobrem-se muito mais capazes do que elas mesmas pensavam.
Estar fora da zona de conforto é, ao mesmo tempo, mau e bom. Estamos, literalmente, desconfortáveis, desafiados, atentos, estressados. Porém, também estamos motivados, ágeis, buscando alternativas, aprendendo, desenvolvendo-nos.
Com o tempo, aquilo que custava muito e era novo passa a ser cada vez mais fácil ou, pelo menos, tolerável. Aumentamos a zona em que estamos confiantes e incorporamos habilidades. Cumprimos um passo mais do nosso potencial que nunca se realizaria se nos deixássemos estar em berço esplêndido, restritos ao familiar.
Depois da visita à funerária, a jovem mudou o rumo da sua vida, foi capaz de se lançar em novos desafios de formas, até então, impensáveis. Este é o caminho: não esperar que a vida empurre, e sim buscar, consciente e deliberadamente, dar aquele passo, entrar naquele estado incerto e estimulante. Ali está você.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
Anamarialsvilanova@gmail.com