Domingo, dez horas da manhã. Uma típica rua lisboeta, com seus representativos estabelecimentos comerciais, numa zona muito turística. Estamos perto da Praça do Comércio, onde, de maneira infame, se encerrou a monarquia em Portugal, história para outro dia.
Não muitos passos por uma rua estreita e estamos no local do evento matinal. Vai começar a Santa Missa. Nada muito extraordinário; há muitas igrejas fazendo exatamente o mesmo por todo o país e pelo mundo. Será?
Ao som do canto belíssimo, entra o padre, com muitos ajudantes. À primeira intervenção, a estranha mistura de estranheza e familiaridade:
– In nomine Patri, et Filli, et Spiritus Sancti. Amen.
A missa será celebrada maioritariamente em latim, de acordo com o rito romano tradicional de 1962. Um desavisado já teria suspeitado de algo incomum à vista de várias senhoras usando delicados véus cobrindo os cabelos.
Mesmo quem não está familiarizado é capaz de reconhecer orações pela posição e palavras-chave. O Credo, o Glória e cada vez que se ouve “Oremos”. Outras são mais estranhas, afinal, vêm do grego, mas a repetição dá a pista:
- Kyrie, eleison
- Christie, eleison
- Kyrie, eleison
Três vezes cada, só pode ser o aconchegante “Senhor, tende piedade de nós”, “Cristo,...”. Nem tudo nos escapará.
Devagar, aprende-se a responder às habituais:
- Dominus Vobiscum (O Senhor esteja convosco)
- Et cum spiritu tuo (E com o teu espírito)
Outra grande surpresa é a movimentação do celebrante. Que estivesse de costas para o povo já era esperado, muito se comenta sobre isso. Mas há uma infinidade de pequenos gestos ao longo da cerimônia, cada qual com seu significado.
Faz falta o missal para acompanhar tudo e preparação para conseguir captar cada momento. Mas, aos domingos, às dez horas de manhã, na igreja Nossa Senhora da Conceição Velha, em Lisboa, algo extraordinário está a acontecer.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica AnaMariaLSVilanova@gmail.com