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Os suspeitos do costume

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 19/11/2024 às 18:07
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O casal conversa pela última vez, no aeroporto. É a despedida; a separação foi decidida por ele, para o bem dela. A beleza angelical da moça é ainda mais irresistível com a fotografia em preto-e-branco. Estamos quase no final de “Casablanca”.

Lançado em 1942, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, o filme conta a história do infeliz casal Rick e Ilsa, que se reencontra no Marrocos, quando ela por lá aparece com o marido, Victor Laszlo, em sua rota de fuga do conflito. Victor escapou de um campo de concentração na Europa; é capaz de levantar o espírito de multidões contra os invasores e, por isso, é um alvo a extinguir.

Oficialmente neutra, a cidade de Casablanca comporta inimigos latentes ou declarados, em tensa convivência. O capitão Louis Renault é a autoridade local e uma prova de que o “alívio cômico” do filme não precisa ser idiota. Ele navega entre o cinismo de Rick, a dignidade de Victor, a beleza de Ilsa, a pressão alemã e as obrigações do cargo, com sagacidade e muito engenho, facilitado pelo seu caráter altamente dúbio.

Sem uma linha a mais ou a menos, e ainda com tempo para mostrar canções inteiras, o filme é uma aula de concisão e narração. Cada gesto tem um significado e, mesmo uma despretensiosa cena no mercado local, em que um comerciante tenta barganhar uma peça com Ilsa, é mais do que parece à primeira vista. Ela recusa os avanços, mas exatamente a que ela diz “não”?

Casablanca é, também, um filme campeão de citações. É possível que muita gente as tenha ouvido vezes sem conta, sem saber sua origem. Um exemplo é o filme “The Usual Suspects” (“Os Suspeitos”, 1995), cujo nome vem do octogenário filme, quando um assassinato acontece, e o capitão Renault ordena que se prendam os “suspeitos do costume”.

E, por fim, a inesquecível canção “As Time Goes By”, interpretada pelo ator e cantor Dooley Wilson. Icônica, a versão se tornou “a canção” de muitos casais por aí, tendo já servido de tema para o nascente romance de Ilsa e Rick em Paris. Essas lembranças, aliás, são tudo o que restou aos dois, como responde ele, quando ela, desconsolada, pergunta “e nós?”. “Nós sempre teremos Paris.” Oitenta anos mais tarde, essas palavras ainda ressoam com força numa obra atemporal. Altamente recomendado.

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