ARTICULISTAS

Para desacelerar

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
AnaMariaLSVilanova@gmail.com
Publicado em 19/12/2023 às 17:51
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Piscamos e o ano acabou. Bem, quase. Já estamos naquela fase de reflexões de vida, questionamentos existenciais, balanço geral. É o mês das emoções. Como é que este ano passou tão depressa?

Uma teoria: é tudo culpa das redes sociais. Não é que o ano tenha passado mais ou menos rápido, apenas preenchemos mais nosso tempo com tanto conteúdo.

Não faz tanto tempo assim, manter-se informado se resumia a eleger o veículo de comunicação de preferência e assistir às mais recentes novas, ou lê-las. Fora desse momento, leituras e vídeos eram destinados à construção de conhecimento mais profundo, para além das miudezas do dia a dia. Não mais.

Agora é um fluxo sem fim de novidades e, pior, o próprio sistema gera cada vez mais informação, até a saturação total. Não é de se admirar a nova síndrome no mercado, “fear of missing out” (medo de perder – algo).

A origem da notícia pode ser, literalmente, qualquer ser humano no planeta, através de qualquer meio. Assim, alguém publica no X (antigo Twitter), outros repercutem no Facebook, uns motivados repetem no Threads. Em seguida, os mais jovens comentam no Instagram, e os mais densos fazem longos vídeos no YouTube, explicando tudo.

Mas não acaba aí, ainda se fazem vídeos tipo “react” (de “reagir”) a qualquer das fases da notícia, que depois são, por sua vez, também respondidos. Se a pessoa está fora das redes por umas três horas, já pega a reação à reação ao comentário do que foi publicado.

Isso quando não há o azar de tudo ter se originado no portal das trevas, essa invenção do sinistro chamada TikTok. Parece inofensivo, nem tão diferente assim das outras redes. É só para vídeos curtos e gera tráfego altíssimo. Para quem quer fazer a vida on-line, não é possível ignorar tamanho canal de distribuição.

Só fachada. Feito para viciar e destinado a moldar mentes e corações, é uma fábrica de dopamina, particularmente voltada aos jovens. Que Deus nos proteja.

Ano que vem, menos conteúdo curto e fácil, mais livros analógicos, “chatos” e duradouros. E um novo ano mais longo e pleno para todos.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com

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