Trabalhando numa empresa francesa, muito útil era falar a língua da sede. Não que fosse imprescindível. Como toda multinacional, a língua oficial era o inglês, mas caía bem em qualquer reunião dar uns pitacos, tomar notas, fazer uma cara honesta de compreensão.
Faltando tempo e viajando muito, mesmo um professor particular não durou. Não havia meios de compatibilizar horários e, mesmo com flexibilidade de parte a parte, não houve meios de continuar.
Um amigo sugere um método de autoaprendizagem, com livros e – pré-históricos – CDs, em que se vai ouvindo, repetindo, respondendo, até que a dinâmica da língua é assimilada de forma mais natural. Milagrosamente, começou a dar resultados. Incrível!
Mas qualquer língua é incompleta com um vocabulário pobre. Também faz falta ver o máximo possível de situações diferentes, para captar cada vez mais expressões. Aí vem a providência.
Quem cresceu nas décadas de 70 e 80 acostumou-se a esperar a mais recente edição das histórias do Asterix. O personagem fictício é um intrépido gaulês que habita a única aldeia que resiste à ocupação romana, ainda nos anos a.C.
O druida local tem a fórmula de uma poção mágica que dá força sobre-humana a quem a toma. Assim, numa época em que o combate corpo a corpo era a forma habitual de dominação, aqueles aldeões vão se mantendo invictos, ainda que objeto de constantes tentativas de subjugação.
Em Uberaba, o primeiro lugar a buscar a revista em quadrinhos era a banca da rodoviária. Chegando à casa, a disputa para ver quem lia a revista primeiro era grande. Memórias de infância, especialmente as queridas, são poderosas. Quem leu tantas vezes e se divertiu com cada trama daquelas histórias inteligentes sabe o que se diz a cada momento, sem precisar consultar nada.
Ler as mesmas histórias na língua original, além de ser um momento de leitura prazeroso, converte-se numa sucessão de “a-ha, é assim que se diz isso em francês”!
Há um jeito certo de aprender uma língua? Especialistas podem apontar na direção certa, porém, com certeza, divertir-se com o idioma almejado é garantia de constância.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com